sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Josué Yrion

Há gajos malucos...

e depois há gajos mesmo malucos!!! :)





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Prazer... Uma chave do Paraíso: mover-se em harmonia com ele


O Génesis foi escrito fora do Paraíso.
Nesse local onde o Paraíso é apenas uma estória, um desenho, um desejo, de algo que não se vive, que não se é...

É a história escrita pelos despojados, pelos escorraçados, pelos expulsos.

Seria espantoso que uma tal estória estivesse correcta: Se eles continuam expulsos é precisamente porque não compreendem o motivo da sua expulsão. O Criador dos Mundos vive no Paraíso (ou no melhor mundo que consegue criar), o que o levaria a excluir alguém desse mundo, a não ser os incapazes de viverem nele?

É como se desde sempre as portas estivessem abertas. Não é preciso encontrar "Deus" ou o Paraíso. Desde sempre que ele já nos encontrou a nós. Só precisamos de o saber receber, de o saber escutar, de não fugir constantemente com as tentativas de sair deste mundo, desta realidade, de tentar fazê-la melhor, e, em vez disso, aceitá-la como ela é. Quando deixarmos de tentar mudar o mundo e tentarmos meramente vÊ-lo, compreenderemos que isto é o Paraíso, um Paraíso muito mais belo do que todos os nossos contos de fadas, retratos religiosos e outros frutos da imaginação humana souberam pintar. A ciência desvela-nos uma parte física, infinita complexidade, dimensões sem fim. A arte mostra-nos o que desde o início era uma possibilidade e aquilo que Mozart, Yes ou a Regina Spektor apenas começaram a explorar. Do mundo fazemos parte nós, com todos os nossos sonhos, a nossa Liberdade, o nosso amor, a nossa angústia e necessidade de mais. Não vemos o fim ao mundo, para onde quer que olhemos, só há perfeição absoluta. Morte e vida, sofrimento e dor e prazer e êxtase alternam-se criando uma tapeçaria imensamente complexa de sentimentos, de factos, de estruturas físicas e (no caso dos organismos inteligentes) conceptuais. Por toda a parte o jogo se repete, cheio de detalhes, infinitamente intrincado, sem qualquer falha. Como se nos quisesse transmitir uma mensagem: chegaste, estás em casa, aqui é o Mundo por que esperavas e que não acaba aqui.

Porque somos incapazes de ver este mundo? Porque focamos apenas a tristeza, a dor, a solidão? Porque tentamos sempre aperfeiçoar aquilo que já é muito mais do que a nossa parca concepção de perfeição, aquilo que nem compreendemos?

A razão é que, apesar de estarmos no Paraíso, não o vemos, não o sentimos, não lhe tocamos. Somo-lo e não nos apercebemos de o somos. Tocamo-lo e olhamo-lo com desprezo e com ódio. Odiamos a morte, odiamos a dor, odiamos a perda, sem nos queremos aperceber que tudo morre, tudo passa, e só por isso estamos aqui hoje, Pedro e Lídia, Rosa e João, Maria e José, etc. Cada pessoa, cada animal e planta e pedra só existe porque tudo passa, como centelha, fragmento ínfimo de um todo que não cabe na nossa imaginação. Amaldiçoamos assim a morte e, ao fazê-lo, amaldiçoamos a condição que permite a nossa própria vida. Não nos apercebemos sequer que morremos a cada instante, que a morte é tão inevitável e frequente como a passagem de um segundo. O Pedro de hoje não é Pedro de amanhã. O Pedro deste momento não existirá no próximo. A memória, os conceitos, o nosso articulado cérebro, dá-nos uma sensação de continuidade do eu. Mas a única coisa que continua realmente é a própria Vida, que não se deixa limitar pelo Pedro ou pela Marisa, que não se esgota numa experiência, mas que contém em si todas as possibilidades. Enquanto Vida somos de facto imortais. Mas, o nosso corpo desaparecerá e nada há de dor nisso para quem compreende a sua verdadeira natureza, quem não se identifica.

Aqui está pois uma causa para não conseguir viver no paraíso apesar de já lá estar. É como se o Paraíso fosse o Tudo e nós, maravilhados com uma parte, nos agarrássemos tanto a ela que já não conseguimos ver o todo. O Paraíso esconde-se de nós por não integrarmos essa parte no todo que lhe dá o sentido total e pleno, que a revela como Beleza Infinita. Em vez disso amamos as coisas como se elas fossem dissemelhantes do resto do Universo. Por exemplo, o que há de mais natural do que apaixonar-me pela Ana e pensar que ela é não só circunstancialmente diferente da Zebra, da Lua e do Mar, mas fundamentalmente diferente, como se tivesse uma outra natureza. E, no entanto, é apenas na aparência que a Ana diverge do Mar, ou de um caracol, ou da bosta de uma vaca, ou de uma galáxia longínqua. Aquilo que deu origem à Ana foi toda a história do Universo. Aquilo a que a Ana vai dar origem (a matéria, as consequências dos seus actos) vai provavelmente ficar presente em toda a história do Universo. A matéria de que é feita a Ana é, fundamentalmente, igual à matéria de todo o Universo. A alma de que é feita a Ana acompanha tudo, todos os corpos, todas as pessoas, está presente nos lagos e nos rios. Só a mente da Ana é única, o seu braço direito é diferente de todos os outros braços que já existiram ou vão existir, incluindo o seu braço direito daqui a um momento. Mas, fundamentalmente, ela é igual a tudo e tudo é igual a ela.

Por isso, quando pensares ou disseres ou te disserem, "amo-te", podes ficar a saber que não te amam fundamentalmente. Amam aquilo que aparece, aquilo que agora é assim e amanhã é assado. Amam-te de uma certa maneira. Se passares a ser de outra maneira (e poderias, porque todas as possibilidades estão dentro de ti), poderão já não te amar. Já não serás tu dirão talvez. Mudaste! "Amo-te" - eis a receita prática da ilusão, o símbolo de garantia de que quem o diz ama apenas um eu que tu só és de passagem.

A única forma verdadeira de Amor tem apenas esta expressão "Amo (tudo)" pois só ao Amar Tudo sem excepção, sem distinção, será possível amar um ser por completo. Para Amar a Ana tenho também de Amar todo o Universo, desde a vida à morte, as fezes às estrelas, os lagos aos peixes, aos vírus. Tudo se reflecte em um e um faz parte do Tudo. Compreender intimamente, secretamente (para além do que o pensamento abarca), intuitivamente, alguém até às raízes é sentir o pulsar do Universo em tudo o que faz, o que diz, o que É. Esta é a única forma de amor livre.

Como é óbvio, quem vivesse nesta realidade (alucinado, diriam a esmagadora maioria dos seres humanos - que me receitariam com certeza um asilo para me salvarem do êxtase) só veria beleza a toda a volta. Em tudo veria os olhos do Amante, o Coração do Amante, a boca do Amante. Cada coisa seria o sexo do Amante, o beijo do Amante, o olhar mais do que em Êxtase do Amante. Teria portanto chegado ao Paraíso.

Mas se tudo aponta para que seja assim (olhemos a Astrofísica e todos os campos do saber humano, olhemos a beleza simples e óbvia de tudo o que nos rodeia, uma mensagem elevada em cada estrela, em cada aranha, na lua e nos satélites que o homem fez, e em tudo sem excepção que nos rodeia, porque não o vivemos?

A resposta é o que o vamos vivendo, aos bocadinhos. Não vemos o Palácio gigantesco criado para nós porque é muito grande, muito diverso, tem muitas facetas. Alguns de nós só exploram pequenas parcelas da realidade. Para uns é a força física, para outros contar anedotas, para outros são as curvas misteriosas das mulheres, para outros são os carros, para outros o dinheiro, outros já vão mais longe, gostam de contemplar todo o mundo humano e estudam psicologia e antropologia, sociologia e outras ciências humanas. Outros tentam abarcar o mundo animal, muito mais vasto e diverso do que o humano, outros especializam-se na pintura, na música, na escrita. Outros ainda nas ciências (hard sciences). Mas como é óbvio tudo isto são pequenas parcelas da realidade. Só quando uma única mente começa a captar tudo em uníssono. Só quando abarca religiões, arte, ciência, emoções, animalidade, sexualidade, etc. Só quando, esgotados os preconceitos, se predispõe a ver tudo o que está ao seu alcance, a deixar entrar a luz deste mundo, só nessa altura a Beleza de todas estas vertentes se complementa para criar um verdadeiro quadro para lá da compreensão, mas capaz de inspirar. Uma mente assim percebe que está no Paraíso, ainda pode não lhe conhecer a gigantesca maioria dos detalhes, mas sabe qual é a sua natureza fundamental.

Aquilo portanto que separa os homens e outros animais do Paraíso é verem apenas a parte. Na história desenhada no Génesis e noutros relatos religiosos a razão dada é outra! Haveria um "fruto proibido"!! E, como eles foram lá ver, uhau, ficaram cheios de vergonha e foram expulsos, não se percebe se por causa da vergonha ou da desobediência ou de ambas.

Antes de alargar os horizontes desta história é necessário compreender o bem que ela faz. Ela concentra-nos em certos pensamentos e estados de espírito. Ou seja, imaginemos uma pessoa que sempre viveu em função do dinheiro, de dependências emocionais, de poder, etc. Ora estas estórias levam-na a centrar-se em coisas bem mais interessantes e profundas: a "Voz de Deus" a "Obediência ao Amor", etc, etc. Apesar de toda esta capacidade de escuta que é desenvolvida ser também muitas vezes desviadas para jogos de poder que transformam as igrejas em verdadeiros clubes hierárquicos onde a coesão social é de longe mais importante que o desabrochar desta capacidade de "sintonização" individual, o que é certo é que muitas pessoas precisam destas pistas, destas muletas, para crescerem "para dentro", para despertarem o seu "ouvido interior".

Como é óbvio estes textos bíblicos estão longe de trazer a felicidade ou a vivência do Paraíso. Isso é tão óbvio que normalmente se remete essa experiência para depois da morte (sofre agora que depois terás a sua recompensa). O sofrimento não só é visto como algo normal mas até desejável. Ninguém acha estranho que, apesar de fazer tudo por tudo, nem os padres, nem profetas, nem papas, vivam no Paraíso, mas muito longe dele e preguem precisamente o que não devia existir: vergonha, culpa, pudícia, etc. O mundo de Êxtase que o Paraíso descreve não é, segundo estes profetas, para ser vivido, apenas para ser sonhado, desejado e esperado numa outra vida.


É claro que tudo isto é necessário. Porque se fôssemos falar de prazer e êxtase a alguém que só se pensa em embebedar, seja nas bebidas, no sexo, no amor, etc. Ou seja, que procure fugas e não encontros. que veja a vida e todos os prazeres que ela proporciona como oportunidades para fugir de si próprio, da realidade, para se alienar... bem, então é óbvio que teremos de lhe impôr um stop, um obstáculo: tu desejas isto, mas isto é o teu fim, é isto que te retira do paraíso.

E "isto" pode ser sexo, bebidas, futebol, dinheiro, poder, enfim, tudo o que nos afasta de nós próprios. Todas as ilusões. Nesse sentido a religião é porreira e desempenha um papel fundamental no crescimento interior, porque permite estancar a energia voltada para vícios (fugas), para nos centrar na voz interior que tínhamos vindo a desrespeitar.

A história do Genesis é portanto, não tanto um mapa assinalando o local do Paraíso, e muito menos a sua porta. Mas é uma parte do caminho. Infelizmente contém a história toda trocada. A serpente nunca existiu, nem nunca houve nenhum Deus a dizer "daquela árvore não comerás". Nenhuma árvore é proibida. Aliás, essa é uma das marcas do Paraíso: tudo serve para o nosso crescimento, tudo serve para o nosso bem, não há nada enganador. E porque haveria de um Deus infinitamente bom criar ilusões? Não! tudo é real, mais precisamente, tudo o que podemos tocar e sentir é parte da realidade, que continua, por mais dimensões e escalas do que as que podemos conceber. A realidade é simplesmente demasiado vasta para ser contida na imaginação de qualquer ser. Ela contem, inclui tudo aquilo que vemos, sentimos, vivemos, pensamos, imaginamos. E tudo aquilo que vivemos é apenas uma ínfima parte dela.

Mas é o nosso medo de pecar, de olhar para árvores indevidas, ou sexos de mulheres comprometidas ou demasiado livres, esse medo, que nos permite, numa primeira fase, concentrar nessa "voz interior", no mundo interior que na religião católica se chama de "espírito santo" mas que tem sempre lugar com outros nomes noutras religiões. Mais tarde, essa culpa, essa vergonha, é um impedimento para ver mais e melhor. É como se tivéssemos sempre a vista toldada. Olhamos para uma mulher, o seu sexo, o seu desejo, o seu pudor, a sua vontade, a sua gula, e dividimos. Uns queremos, outros tememos, outros detestamos. A partir desta perspectiva dividida, de um mundo em parte bom e em parte mau, tentamos transformar tudo, melhorar tudo, manipular para ficar perfeito. Não só os outros, mas também as coisas e nós próprios.

É claro que a mudança faz parte da vida. Faço a barba porque faz sentido fazê-la. Mas sei que seria igualmente bom não a fazer. Simplesmente, para o pedro fonseca, hoje, faz mais sentido fazê-la. É como uma música, há certas notas que ficam bem a seguir a outras, e há certas melodias que fazem mais sentido em certos momentos.

Viver no Paraíso terá também este requisito: para reconhecermos o Palácio em que já vivemos sem o saber, temos de nos mover em harmonia com ele. Esta é outra chave do Paraíso, não só a integração como a aceitação que leva à acção. Este mover em harmonia, a um nível profundo sem esforço (a um nível mais superficial poderá representar todos os papéis) é apenas ser a nota certa no momento corrente. É como se, estando a ouvir uma música que nos diz muito, saibamos sempre a próxima nota, e possamos cantarolá-la e antecipá-la mesmo sendo a primeira vez que a ouvimos: faz sentido e isso é viver sem fugir ao Paraíso.

Quando, em vez de ouvirmos o mundo e respondermos com a nota que achamos melhor, o tapamos, cheios de vergonha, e não queremos ver o sexo da solteira ou da casada, temos medo de enfrentar os demónios, de ir à profundeza dos infernos, ou simplesmente de viver a alegria do sexo que ri de alegria de ter encontrado alguém que lhe "encha as medidas", quando tapamos o mundo ou fugimos dele, então somos incapazes de o ouvir, e por isso somos também incapazes de lhe dar resposta. Cantamos, mas uma música dissonante com a que nos rodeia. É como se estivéssemos dentro de um paraíso de loiça frágil de cristal e trouxéssemos uma marreta para nos proteger dos bisontes. Não ouvimos nada, não compreendemos nada, dançamos na contra corrente... Se o Paraíso não fosse feito de matéria indestrutível e se, a um nível fundamental não fizéssemos tanto parte dele que nenhuma das nossas acções está no fundo contra ele, talvez o destruíssemos com tantos actos cegos. Mas na realidade o Paraíso continua a 100%, sempre a 100%, sempre, sempre. Mesmo durante a ditadura de Hitler, nos campos de concentração nazi, ou hoje nos campos de refugiados de Gaza, ou antes, nas fogueiras portuguesas e espanholas da inquisição, ou durante as chacinas da Revolução Francesa, ou nos incendios que matam biliões de seres vivos em apenas alguns minutos, ou numa qualquer catástrofe capaz de transformar o planeta numa bola de fogo. Em tudo isto o Paraíso continua, imperturbável, acima de tudo porque não identificado com nada. Contemplando tudo como outra possibilidade sua, mais uma divisão da casa, ligada a todos os seus antecedentes e consequentes, com o seu valor próprio, mais um passo para a evolução.

Não é por acaso que foi depois da 2ª Grande Guerra que ganhou mais impulso a ONU, que se assistiu a um período de paz e cooperação internacional sem par, que foi condenada a eugenia (até então em voga tanto nos EUA como na Inglaterra), que o colonialismo deu verdadeiramente os seus últimos suspiros. Quem olha para o Hitler como um monstro não compreende as origens e causas profundas da guerra, causas essas que estão no colonialismo, nas condições impostas à Alemanha após a 1ª grande guerra, e, de forma mais geral, na arrogância dos povos e no desprezo que sentem por quem não pertence à sua equipa. Na guerra, o lado dos Aliados era o "menos mau", mas fomos também nós que recusámos a entrada dos judeus nos nossos países vindos da Alemanha, antes dos programas de extermínio. Foi a Inglaterra, por exemplo, que impediu a entrada de judeus no que se viria a tornar Israel: não havia alternativa para estas pessoas senão voltas às nações onde eram perseguidas (maioritariamente a Alemanha e Rússia).

Por outras palavras, tudo acontece por um motivo. Muitas vezes nascem bebés que morrem logo após um periodo prolongado de sofrimento. É triste se pensarmos nos seus corpos, na sua dor, não é triste se compreendermos que a vida que permitiu o sofrimento subsiste além deles, e é também, pelas mesmas razões (a ligação a um corpo e a um objectivo) origem de satisfações.

Não pode haver uns sem os outros. Desde há milhões de anos que as ninhadas de gatos são maiores do que é possível alimentar. Morrem à fome, ao frio, à sede. É o equilíbrio natural da natureza. O facto de hoje podermos controlar a nossa própria população permite-nos evitar aos nossos bebés, o sofrimento enfrentado por quase todas as espécies, que procriam mais do que o seu meio permite. Mesmo assim só agora, e em algumas comunidades, começámos a fazê-lo eficazmente. Durante os próximos séculos a população humana continuará a ter tendência para aumentar agravando os problemas de poluição, escassez energética e de alimentos, etc. Quem se poderá queixar então da guerra, que palavras monstruosas chamaremos àqueles que, como Hitler, exterminaram e torturaram inocentes? E no entanto, nós também seremos responsáveis. Estamos ligados nessa cadeia causal. O facto de não o vermos com a nossa mente meramente humana não faz com que essa ligação seja menos real. Eles são os monstros que executarão, nós fomos os monstros que montaram o palco.

Mas na realidade não há monstros, há apenas pessoas perdidas num mundo sem fim, uns mais perdidos que outros, uns que reconhecem mais que estão perdidos do que outros, uns mais capazes de olhar de frente o mistério diante deles do que outros (a realidade não pode deixar de ser mistério para nós - algo que não compreendemos mas sabemos estar lá - devido às limitações do nosso cérebro, e que, em alguma medida, poderão ser estendidas a qualquer sistema computacional - devido ao teorema de Gödel entre outros aspectos). Dentro dessa perdição que é viver o mundo a descoberto (como mistério) ou tapado (com a ajuda de teorias / alucinações), cada um faz o melhor que pode. Ou caindo no desespero ou agarrando-se a qualquer coisa que lhe pareça de valor no meio de toda esta confusão (por exemplo a fama ou simplesmente a aceitação).

Tanto Hitler como Estaline como o padeiro da esquina, a mulher a dias, o executivo, Gandi, Osho, etc, viveram, como pessoas, esta limitação. E não foram mais do que isso, pessoas, limitadas, a tentar encontrar o seu caminho num mundo necessariamente impossível de compreender na sua totalidade por um organismo como o homo sapiens.

O espantoso é o número de pessoas que acredita que sabe realmente em que mundo vive, o que é esta madeira que o rodeia, o plástico, o sorriso, o ambiente, a sensação. Espantoso é que haja tanta gente mergulhada no Mistério sem falar sobre ele, tentando não pensar sobre ele, como se a vida se reduzisse a um conjunto de horários e obrigações, como se fôssemos meros autómatos correndo atrás de objectivos.

Na verdade, não sei o que somos, para que vivemos, o que podemos esperar, de onde viemos, para onde vamos...

Sei apenas, porque o sinto, porque me é evidente, que vivo num mundo bem para além do Paraíso, de tão belo que é. Sei também que durante muito tempo tive vergonha de, havendo tanto sofrimento (ilusório no sentido em que é fruto da ilusão) viver eu tanto prazer e em êxtase maravilhado com o tudo e o nada. Mas hoje compreendi que esse medo de viver o Paraíso, ou melhor, essa vergonha, essa sensação de culpa, é precisamente o que me afasta dele.

À que saborear, sem medos, esse Prazer. O Prazer não é mau, é fonte de Amor, de Inspiração, alimenta a Liberdade, dá-nos Luz. Se queremos verdadeiramente habitar (conscientemente) o Paraíso que nos foi oferecido, é preciso dispormo-nos a viver essa Liberdade, essa Alegria, esse Amor. Ele está LÁ, para todos os que o quiserem e souberem receber...

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

...ahhhhh!!...

O mundo pode fazer muito mais por nós do que nós podemos fazer por ele.

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É certo que cada gesto de cada ser vivo poderá ter repercussões até ao fim dos tempos, que serão por vezes amplificadas à medida que o tempo passa. Por exemplo, a humanidade inteira não existiria se um único coito não tivesse ocorrido há milhões de anos atrás. E não foi apenas esse coito, foram precisos biliões de coitos, exactamente iguais, até ao mais ínfimo detalhe para estarmos hoje aqui os dois: tu e eu.

No entanto, apesar da enormidade das consequências dos nossos mais pequenos actos (a maior parte dos nossos gestos, mesmo os mais pequenos, terão uma infinidade de consequências até ao fim da história do nosso planeta ou mesmo para além disso (caso haja seres vivos que emigrem daqui para outros sistemas solares, por exemplo), o mundo é tão incompreensivelmente enorme, gigantesco para além dos nossos mais extravagantes sonhos, que tudo o que possamos fazer é menos do que uma gota de água num gigantesco oceano. Se bem que os nossos gestos tenham consequências, essas consequências diluem-se no tempo há medida que vão sendo misturadas com biliões de biliões de outros factos e eventos. Por isso, certamente que um único coito no passado longínquo modaria a face de cada ser humano (e talvez da maior parte dos seres vivos) no planeta. Se andássemos suficientemente para trás no tempo, uma pequena diferença num único coito, faria com que não existisse um único ser vivo dos que agora existem. Nem eu nem tu, nem ninguém que conheçamos ou de que ouvimos falar, nenhuma das personagens da história. Tudo seria diferente devido a apenas um único ai ou ui diferente há biliões de anos atrás. No entanto provavelmente a história do planeta seria muito semelhante. Haveria certamente mamíferos, peixes, aves, tudo estaria coberto de vida, desde as plantas, aos aracnídeos, a festa da vida seria a mesma. Eventualmente apareceria vida inteligente, alguns milhões de anos antes ou depois, o que interessa? Talvez a linhagem fosse diferente, talvez fossem vegetarianos a alcançar a inteligência, ou predadores sanguinários. A história do planeta seria diferente nos detalhes mas não na aventura, não no prazer, não na infinita variedade, não nas suas linhas centrais de abertura à consciência.

É neste sentido que qualquer um de nós tem pouco ou nada a oferecer ao mundo. Existem sistemas planetários a perder de vista, certamente um número de civilizações inteligentes maior do que o número de seres humanos que alguma vez habitaram o planeta. Se tivéssemos nascido numa nébula, na companhia de muitas estrelas e sistemas planetários, certamente que teríamos contacto regular com outras civilizações extra-planetárias. Mas nascemos num sol algo isolado e é pouco provável que seja fácil para nós manter um contacto frequente com essas civilizações. Estamos demasiado longe. É claro, há medida que as nossas ondas hertzianas se forem espalhando para o espaço (como no livro Contacto, de Carl Sagan) estaremos a emitir como uma espécie de farol que grita: «há vida inteligente aqui!», mas é questionável que na balbúrida do universo, com tanta incontável vida, haja alguém realmente interessado em nos conhecer. Fazendo uma analogia, é como se tivéssemos nascido numa ponta qualquer do oceano onde houvesse pouca vida, e muitos de nós pensássemos até que éramos os únicos seres nesse oceano que podíamos ver como gigantesco. Mesmo que as nossas actividades fossem gerando cheiros e sabores que indiciassem a nossa presença a outros seres, porque se haveriam eles de interessar por nós? Teriam as suas próprias actividades, aventuras, comunidades, sistemas de pensamento e objectivos onde nós, provavelmente, encaixaríamos mal ou pelo menos de forma imprevisível. Só os seres mais curiosos os famintos estariam talvez dispostos a mudar as suas rotinas para nos encontrar e se darem ao trabalho de nos confrontarem e compreenderem.

Apesar da nossa solidão, é certo que vivemos num mundo gigantesco, para lá da compreensão ou da imaginação humana. Talvez um dia possamos aproximarmo-nos mais de o compreender, quando a cibernética aumentar ainda mais as capacidades da mente humana. Em todo o caso para já parece inconcebível que algum ser consiga abarcar o que existe. Por exemplo, só em termos de música, em apenas algumas centenas de anos o homem assistiu a criações tão diversas como as de Gerswhin, Wagner, Vivaldi, Mozart, Black Eyed Peas, os Beatles, Bob Dylan, Strauss, Holst, Vangelis, Elis Regina, Paul Simon, Ney Matogrosso, Trovante, Amália, Regina Spektor, U2, Céline Dion, Gabriel o Pensador, Vitorino, Louis Armstrong, Bob Marley, The Doors, Steve Reich, etc. A própria lista de músicos é gigantesca. Se víssemos apenas a lista de músicos de que há memória, certamente seriam precisos muitos volumes para conter apenas os seus nomes. Mas seriam precisas muitas vidas humanas para conhecer apenas uma música de cada um dos autores. E nem se sabe o que seria preciso para que alguém conseguisse imaginar a vida ou estado de espírito de cada um deles a partir das suas músicas.

Há ainda o caso da literatura, da pintura, da ciência e da filosofia e, se fosse possível ver a história do mundo como a de um filme, poderíamos ainda dar-nos ao luxo de ver cada uma das pessoas em cada um dos seus momentos. Acompanhar também os canários e piriquitos nas suas aventuras, entrar nos seus mundos interiores e saborear, compreender, os seus objectivos e medos, sensações e sentimentos, prazeres e emoções.

Por aqui é fácil de compreender que seriam precisos milhões de anos para um ser humano, ao seu ritmo actual de aprendizagem, para se pôr a par do que tem acontecido pelo universo. É claro que só orgnismos ciebernéticos com prazos de vida de vários milhares de anos ou mais, e com ritmos de aprendizagem e graus de compreensão muito superiores, poderiam sequer ambicionar a compreender uma parte substancial do que nos rodeia. Ao homem isso aparece como um sonho tão impossível e longínquo, que só pode ser apresentado à generalidade dos homens actuais como uma bizarria da imaginação. Mas para seres mais inteligentes (que estarão com toda a probabilidade no futuro deste planeta, e de quem nós podemos até ser também progenitores) poderá ser um objectivo prático a atingir. Por exemplo, se o homem não se destruir entretanto (em nome de Deus, da paz e do amor, etc) é bem possível que dê origem a organismos cibernéticos cada vez com maior tempo de vida e maior capacidade intelectual. Quando se chegar à fronteira dos milhares de anos, quando a nossa memória puder abarcar milhões petabites de informação, quando formos tão flexíveis que sejamos capazes de compreender a beleza divina tanto de Mozart como dos Black Eyed Peas, então estaremos preparados para começar a empreender essa maravilhosa fronteira que é a de ler o mundo que nos rodeia, a realidade que está à nossa volta, com menos fronteiras, com menos limites.

Para esses seres o mundo será algo maravilhoso, cheio de diversidade, muito mais complexo do que o que podemos imaginar. Para muitos seres humanos actuais e outros animais, o mundo é algo chato e cinzento e sempre igual. Não conhecem as aventuras emocionais de Göthe e Herman Hesse, não mergulharam nos dilemas existenciais de Patrick Süskind, não viveram a força de Thomas Mann, ou a libertinagem de Henry Miller, a sensibilidade de Anaïs Nin ou a sensibilidade de Jane Austen, e ainda menos talvez a aguda atenção do gato da vizinha, vivência lúcida mas silenciosa e mais intransponível que a de Anaïs Nin. Ou a da vontade de agradar do cãozinho do outro vizinho, ou a alegria do pardal esvoaçante, o agudo prazer da andorinha malabarista, o sorriso levantado ao sol da flor, o estado da pedra, crescendo e movendo-se a um ritmo extraordinariamente mais lento do que nós, à escala geológica. Tudo isso e infinitamente mais nos vai passando ao lado, e então acreditamos numa vida cinzenta e triste, onde os dias passam sempre iguais. Mas é o nosso cérebro que está bloqueado à beleza que existe, à diversidade que não cabe num lugar pequeno, num pensamento triste.

Neste mundo absolutamente bombástico de luzes e cores e sabores e sentidos e histórias, acontecimentos, percursos, sensações, emoções... Neste mundo imenso parece que nos perdemos. Qual é afinal a nossa escala, a nossa importância, o nosso peso, o nosso papel? Aquele certamente que soubermos e quisermos ter. Mas certamente um infinitamente pequeno e insignificante. Mesmo o maior imperador do maior planeta não afecta praticamente nada do que existe. Olhando para as galáxias que se estendem a perder de vista, esse encimado ditador, cujo reinado se poderia estender por milhares ou mesmo milhões de anos, nunca seria conhecido, os seus gestos nunca seriam sentidos por praticamente 100% do que existe. Não seria exactamente 100% mas apenas 99,99999999...%.O que é certo é que tudo continuaria. Não apenas noutros mundos mas mesmos junto de si. Os fotões e protões e neutrões continuariam, impassíveis aos seus sonhos de glória, a movimentar-se segundo exactamente as mesmas leis, a gravidade, as forças moleculares ou mesmo da psicologia continuariam a ser as mesmas. O passado seria o mesmo, o futuro continuaria a ter o seu quê de imprevisível. A sua ditadura restringir-se-ia sempre a uma íinfima parcela do real: àqueles sistemas que estivessem feitos de maneira a obedecerem à sua vontade: fossem psicológicos, eléctricos, mecânicos, têxteis, biológicos, etc. A causa desse poder, no entanto, seria uma possibilidade desde sempre presente no próprio universo e, por isso, para lá do seu próprio poder. Ou seja, a origem do poder deste possível hiper-ditador não está no seu poder, escapa-lhe, transcende-o. Não lhe pertence, não a pode alterar. Antes lhe pertence e nasce e morre com ela. Por outras palavras, é filho do universo como tudo o resto. E só faz o que lhe é possibilitado por ele.

Mesmo o maior ditador é assim um mero filho do mundo, uma mera consequência de actos que vieram antes dele, e tudo o que fizer está limitado pelo que o universo permite. Possibilidades essas inscritas desde a origem. Nem o passado nem o futuro nem tão pouco o presente lhe pertecem. E, tal como a ele, também não a nós. Somos frutos do Universo, partes incessantemente mutáveis. Nascendo e morrendo da sopa cósmica que nos deu origem, nos mantém e nos vai engolir.

Temos pouco a dar, dada a nossa finitude, mas tudo a receber, dada a imensidão e complexidade e perfeição de tudo o que nos rodeia. Abramos portanto os olhos e os ouvidos, treinemos a mente, libertemos o espírito, deixemos viver o animal consciente e desperto que existe dentro de nós. Armados de tudo, intuição, sensações, mente, espírito, liberdade, vamos então à procura do mundo, vamos deixar que ele nos ensine, que nos desperte, que nos inspire, deixemos que nos guie e nos dê aquilo que nos quiser dar e que possamos receber. Tenhamos confiança na Existência que nos deu lugar.