Mostrar mensagens com a etiqueta viajante. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta viajante. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Para além do bem e do mal -- Infinita Imensidão -- Beyond Paradise

Que outra forma há de viver que não seja procurando o que desejamos e criando distância do que tememos? Um mundo visto assim, por uns olhos de um tal ser vivo, é uma Viagem e está dividido ao meio: a parte boa, de que nos queremos aproximar, e a parte má, de que queremos fugir a todo o custo, mais essa zona difusa de permeio, às vezes gigantesca, do que não metemos claramente nem num saco nem no outro...

Quando olhamos para o Cosmos, no entanto, temos dificuldade em manter essa perspectiva. É como se, o Infinito em que se espalham biliões de Galáxias e mundos sem fim, diluísse os nossos "problemas", as nossas ambições, a nada... Nessa infinita imensidão, onde tantos incontáveis biliões de biliões de seres procuram a seu tempo as suas "preciosidades", somos apenas mais um. Um pequeno habitante de uma imensa floresta, onde tudo, mas absolutamente tudo, tem o seu papel.

É como se, de repente, a mosca verificasse que o a aranha tinha o seu papel. Que se não fossem as aranhas e outros predadores e doenças, os insectos cresceriam exponencialmente até arrasarem com todos os recursos. Tudo se alimenta de tudo, e é precisamente o facto de os excessos de uns alimentarem os excessos de outros, contrabalançando-os, que faz com que a floresta se mantenha, ao longo dos milénios, de forma harmoniosa. Cada predador desempenha o seu papel.

Por outras palavras, é como se o homem compreendesse subitamente que as doenças, a falta de comida, as pestes, as guerras, os ditadores, etc, fazem parte do equilíbrio do mundo. São a forma de manterem em equilíbrio a ambição desmesurada do próprio homem, que procura sempre mais e mais, até se converter numa das piores pragas que o planeta já conheceu.

De rei do mundo e Filho de Deus, a praga infestante, a distância é pequena ou quase nula, melhor dizendo, uma é causa da outra. É precisamente por pensarmos que temos direito a tudo, que podemos explorar sem limites todos os recursos do planeta, que podemos tratar os animais como objectos e as coisas como instrumentos do nosso bem estar, por pensar que somos sagrados num mundo profano, é essa Ilusão de Grandeza, essa Cegueira, que faz de nós pragas. Cegueira certamente partilhada com as moscas que também não estariam dispostas a conterem-se em nome do bem estar de tudo.

É irónico que, em nome do bem, de Deus, do Sagrado, se combatam as doenças e a fome, os predadores e a morte, quando, vistos a outra escala, essas mesmas coisas são tão Sagradas como tudo o resto, são tão boas como tudo o resto, trazem equilíbrio, são o produto do nosso próprio desequilíbrio, do nosso desrespeito para com tudo o resto.

Dito de outra maneira, se os insectos se tivessem dado conta de que tudo à sua volta merecia viver tanto como eles, que tudo era Belo, infinitamente belo, teriam certamente evitado a destruição da floresta, porque se compreenderiam como parte dela e não acima dela. Por esse motivo, ter-se-iam contido no que comiam, nos números em que se reproduziam, etc. Sem excesso de insectos nunca teriam surgido pragas de aracnídeos capazes de os comer. O excesso de uns provocou o aparecimento dos outros.

Do ponto de vista Cósmico, tudo faz sentido. Não há uma única coisa que tenha aparecido sem razão para isso, sem uma história que a sustente. Tudo se integra coerentemente numa história comum onde cada coisa acontece devido a tudo o resto ter também acontecido e cada coisa é também uma (ínfima) razão para tudo o resto acontecer. Nesta concepção do Cosmos, cada parte é o resultado e um contributo para o todo.

Um homem iluminado pela luz do Cosmos é como uma mosca que subitamente compreende, grosso modo, que as coisas que lhe fazem medo, também têm uma Beleza intrínseca, um papel, um valor. Ela não deixa de ter medo, não deixa de ter dor (se é que as moscas sofrem ou pensam), não deixa de fugir dos seus inimigos, de procurar comida e de combater quem lhe faz frente, não deixa de ter dias bons e dias maus...

E no entanto, no meio de todas essas viagens, há algo que a distingue das outras moscas. Ela olha para a aranha e, em todos aqueles oito olhos, naquelas patas longínquas, naquela sede de apanhar e comer, a mosca vê uma beleza, uma irmandade, uma frame comum, entre ela e a aranha e a árvore e a estrela, a e planta devoradora de insectos e a papoila e o girassol.

Nisso que têm de comum, a mosca encontra a imagem mais bela de si, que é também a imagem de tudo, a imagem de um Cosmos perfeito, infinitamente complexo, imagem - porta de Entrada, para a Beleza Infinita que lhe subjaz...

Se o Homem se tivesse visto como parte de um Universo todo ele sagrado, do maior grupo de galáxias à mais pequena partícula, teria procurado compreendê-lo em vez de o instrumentalizar, teria vivido a Beleza em vez de lutar contra monstros, exteriormente viveria mais ou menos da mesma maneira, em Viagem, mas interiormente teria chegado ao Paraíso em vez do Inferno que criou, com os seus medos, para si próprio.

Num Universo onde tudo é sagrado, não pode haver bem e mal, estamos para lá do Infinito, num local bem para lá do Paraíso - vou chamar-lhe Beyond Paradise