terça-feira, 26 de julho de 2011
A dúvida, a crença e o trivial
É interessante pensar em tudo o que não sabemos: quem somos, de onde vimos, para onde vamos, o que devemos fazer, etc. Com base em toda essa ignorância construímos grandes castelos de crenças. Damo-nos nomes, princípios e ideais. Definimos um bom e um mal, imaginamos um Deus qualquer e depois afirmamos que sim, que temos a certeza absoluta que existe, e outras coisas que tais. Quando no fundo, a vida é bem mais simples e bela assumindo que se ignora o que se ignora, e vendo o que se escapa no meio de toda essa ignorância.
Por exemplo, não sabemos se os animais são conscientes, não sabemos se as pessoas chamadas "Marta" são conscientes, não sabemos se às terças, quintas e sábados estamos todos conscientes (hoje é terça) e nos restantes dias não. Ou talvez hoje seja o único dia do ano em que estamos todos conscientes e apenas nos pareça estarmos conscientes durante toda a nossa vida passada.
é claro que o "bom senso" reduziria todas estas especulações a menos que parvoíces: «olha, olha, está a armar-se em bom», ou «olha, aquele é maluco! deixa-o lá». Mas o que é certo é que no meio destas incertezas todas surgem certezas do tipo bem diferente das crenças do dia a dia. Por exemplo «estou consciente» não é uma crença, é uma evidência. Também é evidente que se eu achar que os animais a que nós chamamos irracionais não sentem nada então nunca vou procurar saber o que sentem. A minha vida vai ser mais pobre. Se eu achar que todas as pessoas chamadas "Marta" são desinteressantes a minha vida provavelmente vai ser mais pobre, porque há potencialmente muitas coisas que não vou aprender vindas de pessoas chamadas "Marta". E se eu achar que hoje é o único dia do ano em que estamos todos conscientes isso obrigar-me-ia a ter uma epistemologia, ética e cosmologia tão especial que nada do que faço agora faria sentido (nem se percebe bem que atos ou desejos fariam sentido numa tal visão - talvez viver tudo neste dia e tentar marcar tudo o que é interessante para o próximo dia 26 de Julho de 2012 - programando, entretanto, os maiores sacrifícios para as datas intermédias). Essa visão, podemos tentá-la, parece trazer muito sofrimento.
Portanto, apesar de termos poucas certezas, há uma certeza que podemos ter, há hipóteses que parecem funcionar bem, trazer os resultados esperados, uma vida rica, diversificada, em crescimento, onde se vê cada vez mais longe, onde se sente mais, onde se é mais. Outras perspetivas em que é tudo mais pequeno, afunilado, monótono, em processo de morte. Nós podemos escolher. É como escolher entre o amor ou o ódio. É claro que podemos dizer: Deus blá blá blá, é bom amar, é imperativo amar, etc e tal. Tudo isso carece de justificação, e, pessoalmente, não encontro nenhuma para qualquer tipo de raciocínio que nos diga o que é melhor.
Mas é simples concluir que se amarmos (porque amar é também tentar compreender sem destruir) teremos vidas muito mais ricas e variadas, cresceremos mais, evoluiremos mais, viveremos mais coisas. Enquanto que se odiarmos (e odiar é também criar uma distância, separação, defesa) ficaremos cada vez mais sós, pobres, isolados, próximos do nada.
O que é melhor: crescer ou diminuir? Ter uma visão cada vez mais vasta, diversa e articulada, experiências mais do todo, ou, pelo contrário, uma visão mais limitada, monótona e contraditória, uma experiência de uma parte cada vez menos da realidade (o que quer que isso seja)?
Sinceramente não sei.
Mas sei o que prefiro. E o caminho que vejo ter traçado até aqui parece-me mostrar isso.
Por exemplo, não sabemos se os animais são conscientes, não sabemos se as pessoas chamadas "Marta" são conscientes, não sabemos se às terças, quintas e sábados estamos todos conscientes (hoje é terça) e nos restantes dias não. Ou talvez hoje seja o único dia do ano em que estamos todos conscientes e apenas nos pareça estarmos conscientes durante toda a nossa vida passada.
é claro que o "bom senso" reduziria todas estas especulações a menos que parvoíces: «olha, olha, está a armar-se em bom», ou «olha, aquele é maluco! deixa-o lá». Mas o que é certo é que no meio destas incertezas todas surgem certezas do tipo bem diferente das crenças do dia a dia. Por exemplo «estou consciente» não é uma crença, é uma evidência. Também é evidente que se eu achar que os animais a que nós chamamos irracionais não sentem nada então nunca vou procurar saber o que sentem. A minha vida vai ser mais pobre. Se eu achar que todas as pessoas chamadas "Marta" são desinteressantes a minha vida provavelmente vai ser mais pobre, porque há potencialmente muitas coisas que não vou aprender vindas de pessoas chamadas "Marta". E se eu achar que hoje é o único dia do ano em que estamos todos conscientes isso obrigar-me-ia a ter uma epistemologia, ética e cosmologia tão especial que nada do que faço agora faria sentido (nem se percebe bem que atos ou desejos fariam sentido numa tal visão - talvez viver tudo neste dia e tentar marcar tudo o que é interessante para o próximo dia 26 de Julho de 2012 - programando, entretanto, os maiores sacrifícios para as datas intermédias). Essa visão, podemos tentá-la, parece trazer muito sofrimento.
Portanto, apesar de termos poucas certezas, há uma certeza que podemos ter, há hipóteses que parecem funcionar bem, trazer os resultados esperados, uma vida rica, diversificada, em crescimento, onde se vê cada vez mais longe, onde se sente mais, onde se é mais. Outras perspetivas em que é tudo mais pequeno, afunilado, monótono, em processo de morte. Nós podemos escolher. É como escolher entre o amor ou o ódio. É claro que podemos dizer: Deus blá blá blá, é bom amar, é imperativo amar, etc e tal. Tudo isso carece de justificação, e, pessoalmente, não encontro nenhuma para qualquer tipo de raciocínio que nos diga o que é melhor.
Mas é simples concluir que se amarmos (porque amar é também tentar compreender sem destruir) teremos vidas muito mais ricas e variadas, cresceremos mais, evoluiremos mais, viveremos mais coisas. Enquanto que se odiarmos (e odiar é também criar uma distância, separação, defesa) ficaremos cada vez mais sós, pobres, isolados, próximos do nada.
O que é melhor: crescer ou diminuir? Ter uma visão cada vez mais vasta, diversa e articulada, experiências mais do todo, ou, pelo contrário, uma visão mais limitada, monótona e contraditória, uma experiência de uma parte cada vez menos da realidade (o que quer que isso seja)?
Sinceramente não sei.
Mas sei o que prefiro. E o caminho que vejo ter traçado até aqui parece-me mostrar isso.
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