quarta-feira, 10 de agosto de 2011
Prazer e Felicidade
Há coisas para nós tão óbvias, como a de que o prazer pouco ou nada tem a ver com a felicidade que achamos estranho como é que tantas pessoas procuram uma à espera de encontrar a outra. No entanto nem sempre foi óbvio para mim. Lembro-me de pensar nisso quando andava na faculdade, não foi tanto a partir de um livro mas de uma música que me despertou, dizia assim:
"Todos nós pagamos por tudo o que usamos
O sistema é antigo e não poupa ninguém
Somos todos escravos do que precisamos
Reduz as necessidades se queres passar bem
Que a dependência é uma besta
Que dá cabo do desejo
A liberdade é uma maluca
Que sabe quanto vale um beijo"
(Jorge Palma, A gente vai continuar)
Esta assimetria entre liberdade e dependência pôs-me a pensar. Do que é que precisamos? Em geral do que nos dá prazer ou que pusemos na cabeça que queremos. Mas é muito subtil a diferença entre fazer o que se quer (por liberdade), e fazer o que se precisa (por dependência). Por exemplo, quando eu como o primeiro palmier (adoro palmiers), é normalmente porque quero, mas quando já vou no terceiro já é por dependência. A diferença é tão subtil que praticamente todas as pessoas a ignoram e muitos defenderiam que é apenas uma questão de super-ego a interferir com os desejos e impulsos mais primitivos. O conflito entre a nossa natureza e a cultura. Tudo bem, admito, isso acontece. Mas não é disso que estou a falar. É algo muito diferente.
Para mim a felicidade é apenas isto: realizarmos o nosso sonho que só nos podemos saber qual é, ninguém nos pode dizer. Na verdade é muito difícil saber qual é o nosso sonho. É preciso estar em silêncio muito tempo, procurar muito bem no fundo de nós (como Bastian, no fim do livro, A História Interminável), o que por vezes leva muito tempo. E então, se tivermos sorte, descobrimos: o nosso sonho, o que realmente queremos fazer. É um sonho que não se diz por palavras, muitas vezes enigmático, por vezes mutável ou aparentemente mutável, por vezes indecifrável, outras vezes óbvio. Dizem que é o sonho que comanda a vida, mas este é um sonho pessoal e intransmissível, que "não pertence a mais ninguém" (como diz a música: "Um lugar ao Sol"). Só depois de termos um sonho é que podemos ser felizes. Porque a felicidade é a realização desse sonho, é pôr em prática o que já somos em semente, ou implicitamente, e torná-lo explícito, real no mundo. Isso é que é, para mim, a felicidade.
O prazer leva, em geral, à dependência, porque o corpo habitua-se e quer mais, e porque ficamos tão focados no que nos dá prazer que esquecemos tudo o resto. A felicidade é um contacto, uma expansão. É como se a semente entrasse em contacto com a terra e procura-se nutrientes, água, um sítio fofinho, ela tem de conhecer tudo, interagir com tudo, e depois começa a ver o sol e aí vai. É uma caminhada da parte para o todo, do minúsculo e incompreensível, para o visível e consciente. A felicidade é um crescimento, o prazer é apenas ser parte da máquina, do mecanismo.
Por isso, em geral (apesar de haver exceções), quem procura o prazer encontra a dependência, quem procura a felicidade abre-se ao mundo, apesar de por vezes encontrar muita dor.
"Todos nós pagamos por tudo o que usamos
O sistema é antigo e não poupa ninguém
Somos todos escravos do que precisamos
Reduz as necessidades se queres passar bem
Que a dependência é uma besta
Que dá cabo do desejo
A liberdade é uma maluca
Que sabe quanto vale um beijo"
(Jorge Palma, A gente vai continuar)
Esta assimetria entre liberdade e dependência pôs-me a pensar. Do que é que precisamos? Em geral do que nos dá prazer ou que pusemos na cabeça que queremos. Mas é muito subtil a diferença entre fazer o que se quer (por liberdade), e fazer o que se precisa (por dependência). Por exemplo, quando eu como o primeiro palmier (adoro palmiers), é normalmente porque quero, mas quando já vou no terceiro já é por dependência. A diferença é tão subtil que praticamente todas as pessoas a ignoram e muitos defenderiam que é apenas uma questão de super-ego a interferir com os desejos e impulsos mais primitivos. O conflito entre a nossa natureza e a cultura. Tudo bem, admito, isso acontece. Mas não é disso que estou a falar. É algo muito diferente.
Para mim a felicidade é apenas isto: realizarmos o nosso sonho que só nos podemos saber qual é, ninguém nos pode dizer. Na verdade é muito difícil saber qual é o nosso sonho. É preciso estar em silêncio muito tempo, procurar muito bem no fundo de nós (como Bastian, no fim do livro, A História Interminável), o que por vezes leva muito tempo. E então, se tivermos sorte, descobrimos: o nosso sonho, o que realmente queremos fazer. É um sonho que não se diz por palavras, muitas vezes enigmático, por vezes mutável ou aparentemente mutável, por vezes indecifrável, outras vezes óbvio. Dizem que é o sonho que comanda a vida, mas este é um sonho pessoal e intransmissível, que "não pertence a mais ninguém" (como diz a música: "Um lugar ao Sol"). Só depois de termos um sonho é que podemos ser felizes. Porque a felicidade é a realização desse sonho, é pôr em prática o que já somos em semente, ou implicitamente, e torná-lo explícito, real no mundo. Isso é que é, para mim, a felicidade.
O prazer leva, em geral, à dependência, porque o corpo habitua-se e quer mais, e porque ficamos tão focados no que nos dá prazer que esquecemos tudo o resto. A felicidade é um contacto, uma expansão. É como se a semente entrasse em contacto com a terra e procura-se nutrientes, água, um sítio fofinho, ela tem de conhecer tudo, interagir com tudo, e depois começa a ver o sol e aí vai. É uma caminhada da parte para o todo, do minúsculo e incompreensível, para o visível e consciente. A felicidade é um crescimento, o prazer é apenas ser parte da máquina, do mecanismo.
Por isso, em geral (apesar de haver exceções), quem procura o prazer encontra a dependência, quem procura a felicidade abre-se ao mundo, apesar de por vezes encontrar muita dor.
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