sábado, 7 de maio de 2011

Vício e liberdade


Vício é tudo o que se faz por ausência de liberdade.

Por vezes define-se um vício pelas consequências que traz. O desporto, trazendo saúde, não será um vício, já os jogos de computador em demasia, serão um vício porque trazem consequências más.

É uma perspetiva válida e interessante, mas eu, que não quero separar-me do fogo interior da minha liberdade, procuro outro tipo de visão.

Para mim "vício" é aquilo que me rouba a liberdade, é o que faço pensando, ao mesmo tempo "podia estar a fazer algo melhor". E não mudo. Mantenho-me na rotina, prisioneiro de pequenos prazeres e ânsias que se repetem ad infinitum... E quanto mais ando à roda à procura desses pequenos prazeres, mais me perco de mim, até que, às tantas, já nem sei que há um eu, lá dentro, a tentar ser livre, voar no fogo efémero da vida e explorar todas as suas possibilidades, tanto quanto consiga.

Mas lidar com um vício é difícil. Não se pode proibi-lo simplesmente, porque senão ele fica lá, a arder, ou é simplesmente substituído por outro, como o vício da ordem e do poder sobre si próprio. Que pode dar melhores resultados, mas que quero eu saber de resultados, se só me importa a chama da liberdade?

Por isso, para lidar bem com um vício, não é bom prendê-lo, proibi-lo, torná-lo ainda mais apetecível ao prisioneiro que somos nós, privados dele.

Em vez disso, não fiquemos aquém dele! Superemo-lo! Deleitemo-nos nele! Abracemo-lo inteiros. Com um gozo nos olhos, um sorriso nos lábios e o coração cheio de esperança. Abracemo-lo sem nos esquecer do sol, que há um mar e uma terra, e estrelas por toda a parte. E que aquele vício, tão apetecível, é mais um diamante numa terra de diamantes. Aproveitemo-lo bem, até ao tutano, até ficarmos cheios. E depois procuremos outras paisagens, deixemo-nos conduzir sempre pelo nosso interior. Que não está em luta com nada, que não recusa nada, apenas não quer ser amarrado. Apenas não quer ficar limitado. Apenas quer voar até ter vontade de ficar parado.

Livre, livre para viver os vícios, livre para se livrar dos vícios, já não há vícios... pois não há nada melhor, mais apaixonante, que viver o fogo da própria liberdade...

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