sexta-feira, 18 de julho de 2008

A liberdade não tem forma

(este texto é mau, mas a liberdade que está por trás de tudo não tem fim)

Todos nós sentimos que temos dentro de nós algo extremamente belo... algo que podemos querer dar, preservar, ostentar, usar como arma, etc.

Por vezes olhamos o mundo como se fosse um espelho de Deus. Mais vulgarmente ainda, olhamos o nosso corpo, a nossa vida, como se fosse um espelho de nós. Se temos sucesso somos bons, o nosso fulgor interior, essa beleza intangível, mostrou as suas fagulhas na prática. Fomos reconhecidos pelo que realmente somos! Esse reconhecimento atrai, como um magnete. Talvez porque vemos nessa imagem, nesse reconhecimento, nesse gesto que tem o seu quê de perfeito, uma verdade importante e profunda, como se algo vindo do além, e que sabemos ser verdade (a nossa própria beleza interior) se concretizasse agora nesta realidade - a Beleza mostrou-se finalmente: afinal somos realmente bons escritores, fotógrafos, bons pais de família, bons amantes, bons negociantes, ricos, famosos, inteligentes, espertos, divinos... Que verdade saborosa e eu sou assim, de facto!!

E então olhamos para essa figura no espelho e queremos para sempre ser assim, como ela. Porque achamos que ela nos expressa, a nossa realidade bela e interior. Agarramo-nos a ela, identificamo-nos com ela. A partir daí queremos crer que somos aquilo e esforçamo-nos para os nossos filhos gostarem sempre de nós daquela maneira (eu sou um bom pai), para escrevermos textos belos e profundos (eu sou um bom escritor), para continuarmos a ter sucesso nos negócios daquela maneira (eu sou inteligente). Fomos reconhecidos por isto, agora vemo-nos como isso. Confundimo-nos com a nossa imagem no espelho...

Esquecemo-nos, no entanto, que um espelho é só um espelho. Um espelho não tem órgãos, nem coração. Numa sociedade ou mente corrupta o santo que existe em nós é violado, vilipendiado ou desprezado, numa sociedade ou mente adormecida é simplesmente ignorado ou esquecido. Os espelhos estão muitas vezes sujos, são pequenos, deformam. Mas, mesmo quando são perfeitos, revelam apenas uma pequena parcela de nós.

A nossa beleza interior, que, acho, todos sem excepção sentimos lá no fundo, como ponto primordial de toda a nossa inspiração, como alimento da nossa vida, não pode ser retractada nem condensada por nenhum dos nossos gestos. Toda a nossa vida, quer tenhamos sucesso ou insucesso, diz, na melhor das hipóteses, apenas parte do que somos, e, na pior, é como um autocolante que nos esconde o interior. Esse belo interior, esse Paraíso escondido, no máximo, poderá ser adivinhado, por quem nos ama. Mas esses não precisam de sinais exteriores de riqueza interior. Adivinham-na, nem tanto pelo olhar, é qualquer coisa que está para lá do gesto e que também existe nas conchas e em todos os mares... Por isso se chamam amantes aos amantes, para lá do concreto vêem o Paraíso escondido, semi-revelado, nas dobras perfeitas dos seus amados.

... esquecemo-nos tantas vezes que um gesto é apenas o reflexo de um casamento entre tudo o resto e algo infinitamente Belo e muito íntimo e indizível:

a origem da Liberdade...

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