quinta-feira, 24 de julho de 2008

Quem critica o egocentrismo, fá-lo por inveja?


Costumamos dizer que o egoísmo traz infelicidade, mas de facto traz-nos mais infelicidade a nós, sobretudo quando vemos o pessoal com quem não nos identificamos, que não joga o nosso jogo, a divertir-se. Para o pessoal intelectual o futebol é uma perda de tempo, e o Ronaldo, o Figo, o Mourinho e outros que tais, são apenas palhaços num circo nacional destinado a entreter as pessoas e a distraí-las do que é importante (política, espiritualidade, problemas sociais, amor, etc).
Esquecem-se que se sentem mais felizes quanto mais infelizes esses tais se mostram. A infelicidade da derrota do egoísta é a coisa que nos dá mais prazer. Nessa altura entramos como santos: «estás a ver? Isso do futebol não te traz nada de bom, é so frustrações em cima de frustrações e mesmo quando ganhas, é sempre um risco, podes perder no ano a seguir.»
Somos os salvadores, os benfeitores. Mal mesmo é quando eles se dão bem e cada vez entram mais no vício. Da mesma forma com o tabaco. Como detestamos os vícios dos outros, sobretudo quando lhes dão muito prazer!! Eles a divertirem-se com aquilo! Ahhh! Que nojo. O melhor mesmo é quando têm tosse e cancro etc. Nessa altura é como se o céu nos ouvisse e finalmente nos desse razão: «Estás a ver, há quanto tempo te dizia que isso era mau para ti?»

Mais uma vez somos os anjos salvadores, como aqueles inquisidores de outras eras, também eles fantasiados de Santos que nos vinham salvar do sexo e das orgias e dos pensamentos inconsequentes e alheios à vontade do Senhor.
Que bons que eles eram, e que maus que nós, pecadores, éramos. Hoje em dia nada mudou. Já não se critica os judeus, não vão para a fogueira, e os fornicadores até passam despercebidos. Mas o discurso crítico continua o mesmo de uma facção da sociedade para as outras. Os intelectuais criticam o futebol, os pais criticam as drogas, todos criticam os políticos (incluindo eles próprios) e, em tudo isso, o que mais nos apavora são os incríveis prazeres que o egocentrismo proporciona.
Não aguentamos que alguém se divirta mais do que nós. Só se for da nossa equipa, só se nos identificarmos com aquela camisola. E, aí sim, ai que bom é o engenheiro Sócrates, ai que bom era ser como o Huxley e tomar LSD à vontade, ai que bom ser como a Madona e poder consumir crack, ai que bom ser rico e poder andar com jaguares, ai que bom é o Figo e o Ronaldo que nos levaram à Taça! Ai que bom - quando participo, quando sou uno com os que ganham...


Mas não me deixem ver o prazer dos outros, escondam-no entre os lençóis, tapem-no entre esquinas escuras e vielas escondidas, proibem-no, queimem-no, não falem dele, façam-no tabu...

Que eu não quero saber de como os fanáticos da religião se sentem plenos de amor, como os fotógrafos da natureza ganham a vida a viajar, como os que nascem ricos nunca tiveram de trabalhar, de como os ursos vivem de papo para o ar, e os pandas passam a vida a dormir e os golfinhos a festejar: tapem-me as cobertas do mundo. Deixem-me dormir de mansinho, calminho, no meu quartinho de janela pequena e virado apenas para o que eu gosto,

não aguento, não, não aguento, os rugidos de prazer dos outros,

especialmente os que não jogam os meus jogos,

vamos condenar o egoísmo:

têm de ser todos bons,
como eu!!

^_^

2 comentários:

Anónimo disse...

Pois é, nada mudou. É como andar naquela bicicleta que tens na sala. Pedala-se e não se sai do mesmo sitio, mas até se pode transpirar! Por outro lado, as coisas mudam e é como estar sem pedalar e toda a paisagem ir mudando. Tudo são visões de algum modo parciais, muitas vezes a quererem explodir no paradoxo. Podes fazer fotografias e filmagens dos pontos mais altos do mundo e aperceberes-te do mundo como um espectáculo de claros e escuros pleno de beleza e rires-te daquilo que se tem como sério, óbvio e garantido que fomenta a perda e o lucro. Por outro lado, eu posso descer para fazer um grande plano da lágrima que se desactivou do espectáculo…

Gostei dos desenhos que fazes desse sossego meio frouxo do adormecer para o lado que mais se gosta!...

Luar Azul disse...

O Bach e o Gershwin não focavam as mesmas coisas e assim o mundo ficou mais rico!

Quanto às lágrimas e montanhas aqui vai uma perspectiva:

há muitos filões de lágrimas de infelicidade no mundo, mas, vistos de uma certa forma, são só água salgada expelida com vontade.

é claro que também há lágrimas de felicidade, do reencontro. Essas são o fruto do desaparecimento da vontade.

eu prefiro focar o Reencontro porque é aquilo que me seduz.

Talvez um dia foque as lágrimas da vontade.