sexta-feira, 26 de março de 2010

A desagregação social


Desempenhar o papel de professor coloca-me face-a-face com uma das características mais marcantes das sociedades sociais de hoje em dia: o isolamento humano em que a maioria dos "adultos"vive. Os pais, imersos no mundo do trabalho e do consumo não têm tempo para os filhos, estes últimos crescem alimentados pelo mundo da televisão, da internet e dos jogos. Os professores, muitas vezes, ainda tentam fazer a ponte entre os dois mundos, e talvez o conseguissem se tivessem apenas vinte alunos aos quais se dedicar, mas, com mais de 100, é obviamente impossível ser mais do que uma figura de autoridade ou (no melhor dos casos) de respeito.

Porquê todo este afastamento, onde estão os pais, onde estão as conversas profundas ao serão entre a família, onde estão as saídas, o convívio entre jovens e adultos que permitia passar o mundo dos valores (pois esse não se aprende nos livros) de geração em geração?

Nada disto existe porque o tempo não o permite. Estamos demasiado ocupados a ver telenovelas, a trabalhar, a comprar, a ver anúncios, futebol e a acompanhar as "notícias" sobre as quais, em geral, nada podemos fazer, mas "cozinhadas" de maneira a manter-nos agarrados ao ecrã. Mas sobre aquilo que podemos agir, os nossos filhos, a nossa família, sabemos tão pouco.

A culpa não é dos pais, pois toda a sociedade nos puxa para fora das famílias. Porque é que não se ensina a importância do diálogo familiar na tv? A importância de convidar os amigos a ir lá a casa? Porque é que não há spots publicitários a mostrar a imagem que se vê da tv para dentro da sala: 3 ou 4 pessoas embasbacadas, sozinhas, alheias a tudo à sua volta, a olhar para uma imagem de algo que não está lá? Porque não mostra a tv, já que é educativa, o mal que a tv faz?

A pergunta é retórica, pois a resposta é óbvia: dinheiro, dinheiro, dinheiro. Traduzindo: egoísmo, sede de poder, cegueira.

Precisamos de continuar a comprar e a vender, a produzir cada vez mais coisas, mesmo que não nos façam felizes, precisamos de não parar para pensar, porque senão... talvez víssemos o absurdo de toda esta corrida em direcção ao abismo, porque, se parássemos de correr para produzir, vender e comprar futilidades, provocaríamos talvez, não a crise financeira, mas um buraco económico que poria em causa as fundações sociais e económicas das sociedades ocidentais.

E como isso não vai acontecer, os "miúdos" crescem cada vez mais sozinhos, mais perdidos, mais longe dos valores que nos serviram de farol nos últimos séculos.

Isto não é um problema só dos portugueses. Afecta praticamente todas as nações industrializadas.

Que fim pode haver para o mundo humano do século XXI que não a guerra generalizada entre povos? Onde não há valores surge uma ambição desmesurada e uma sede de destruição que nem a democracia pode salvar.