segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

O verdadeiro crime

é não aproveitar a vida.

domingo, 2 de outubro de 2011

Eu sou...

Eu sou um Aprendiz... e estou a Caminho

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

O Infinito, o Telescópio e o Vitral

Vivemos rodeados de infinitos: galáxias a perder de vista, um mundo de partículas elementares tão pequeno que escapa à nossa imaginação, uma complexidade que nem a matemática nem os computadores conseguem captar em coisas tão pequenas como uma proteína. O mundo escapa vastamente à compreensão humana: o nosso próprio corpo é fonte de biliões de mistérios, cuja face mais visível são as doenças sem curas e própria morte, tão facilmente evitável se o compreendêssemos.

Ninguém gosta de se perceber como ignorante, pois isso é uma das formas em que a nossa impotência e pequenez face ao Cosmos se revela. Mas pior do que isso tudo é a dispensabilidade do ser humano, do planeta, da própria vida na terra. Nascemos, como planeta, como sistema solar, por acaso. A nossa criação era improvável, mas a criação do homem nesse planeta era mais improvável ainda, e a criação de cada um de nós, com todas as nossas particularidades, tem uma probabilidade difícil de distinguir do zero.

Existimos por mero acaso, não fomos planeados, intencionados. E a nossa existência deve-se a factos como: a estrela X (uma das que deu origem à nossa matéria atual) explodiu desta maneira, neste momento, gerando esta dinâmica de matéria em movimento, que foi colapsar desta maneira específica. Movimentos mecânicos, perdidos no imaginavelmente longínquo passado (milhares de milhões de anos), são uma das biliões de biliões de biliões de biliões... de condições necessárias para estarmos aqui hoje, o leitor e este texto.

Isso tira grande parte da importância à nossa vida. Estranhamente, quanto mais magnificiente é o mundo que nos rodeia, mais insignificante nós somos. O mundo mostra-se cada vez mais vasto, mais complexo, mais bonito. Nós, por comparação, somos cada vez mais insignificantes, efémeros, dispensáveis, quase inexistentes.

Mesmo que a humanidade, por arrelia com tanta insignificância, quisesse dizer: «não! não somos apenas mais um pequeno passo na vida na terra, que vai ser esquecido como tantos outros! Não, se não podemos ser o mais avançado seremos ao menos o último!» E, com esse derradeiro choro, decidissem explodir o planeta, mesmo assim, por maior que fosse a explosão, seria invisível à escala da Galáxia, completamente insignificante à escala dos milhares de milhões de galáxias visíveis com os nossos telescópios e para os incontáveis planetas, abundantes de vida, que certamente existem por aí.

Não teria feito grande diferença. A coisa continua... A existência não é afetada negativamente pelo que fizermos. O que nós não fizermos outros, noutro sítio, farão. Mesmo que destruamos tudo, é como se simplesmente nunca tivéssemos existido, como se o planeta tivesse ficado um pouco mais pequeno ou mais para a frente ou para trás na sua órbita ou, por diferentes colisões de asteróides, tivesse ficado com uma atmosfera incompatível com a vida. Não é importante. Nada do que fazemos é importante, nada do que podemos vir a fazer é importante.

Somos poeira, num Cosmos infinito e infinitamente Belo e diverso e inimaginável em toda a sua riqueza e complexidade.

Esta visão, para muitos de nós é aterradora. Porque, sendo nós uma espécie gregária, e competitiva, sobretudo os machos, já que é nisso que se baseia a luta pelas fêmeas entre os primatas, temos dificuldade em sobreviver psicologicamente sem a noção de importância. É claro que isto se aplica mais em termos sociais: «sou dono daquele ou daquilo, mando neste ou nisto, tenho este ou esta, sou admirado por n pessoas por ter ou fazer ou poder x ou y.» Sem esta integração numa hierarquia social perdemos a nossa noção de quem somos, do que queremos, do que amamos e admiramos, etc.

Passar a pertencer ao Cosmos, ao grupo das coisas existentes, é uma passagem difícil por uma variedade de razões. Em primeiro lugar parece uma despromoção. Na sociedade humana podemos ser importantes, admirados, espertos e atrevidos, podemos ganhar coisas, fazer a diferença, ser únicos, ser lembrados; podemos até ter a esperança de virmos a ser um daqueles ícones que servem de inspiração para as gerações vindouras. O nosso ego cresce com tamanhas possibilidadades. Pelo contrário, como vimos, é impossível ser mais do que praticamente invisível no grupo das coisas existentes. Nunca seremos mais do que uma mera poeira de uma poeira cósmica.

No entanto há uma vantagem: já não temos de mentir, de fechar os olhos constantemente a tudo o que se passou, vai passar e passa no nosso campo visual. O nosso, quero dizer, da humanidade. Porque o campo visual da humanidade aumentou imenso, com telescópios e microscópios e através da razão, somos capazes de ver os contornos gerais do que aconteceu milhões de anos para trás, do que imaginamos que aconteça milhões de anos para a frente, e do que se passa, apesar de ser só uma imagem muito geral, a milhões de anos-luz, em muitas direções. Tudo isto tem de ser cuidadosamente ignorado para nos continuarmos a julgar importantes. Tal como fatos simples como: «poderia não ter nascido, o mais natural, de longe, era eu não ter nascido, nunca ter existido, em toda a história do universo».

Para sermos importantes temos de andar sempre de olhos cuidadosamente fechados enquanto este infinito nos alcança de todo o lado, nos atinge de todo o lado, tentando entrar, por qualquer fresta, para o interior da nossa opaca e defensiva consciência.

Mas este é um daqueles casos, pelo menos é o que me parece, onde tentamos fugir do que nos faz bem. Porque toda esta luz que vem das galáxias longínquas, nos mostra um mundo muito mais belo, onde vale muito mais a pena viver, do que o mundo humano. O mundo humano, tal como o de qualquer primata, é o mundo social da posse, da hierarquia, da conquista social. Mas quando olhamos para as estrelas temos matemática, temos poesia, temos música, temos aventuras, temos dimensões que nunca mais acabam, de sensações, de arte, de ciência... São dimensões e dimensões que se vão abrindo à medida que a nossa mente vai ficando preparada para elas. Lentamente vamos ficando mais plenos de tudo. O exterior vai passando para o interior, a infinitude alcança-nos. Afinal o que é a música de Mozart e Vivaldi senão a transposição para uma linguagem que um humano pode compreender, da magia da Natureza que nos envolve. As "quatro estações" de Vivaldi, não são apenas um hino à natureza, elas transportam-nos para um mundo cheio de vida, que sempre esteve lá, mas que nós simplesmente não focámos com a nossa mente. O filme Avatar, do Cameron, tenta a mesma coisa: passar para uma linguagem humana aquilo que se sente quando se vê a natureza.

Mas quando olhamos para as estrelas podemos ouvir um chamamento: não é só a natureza do planeta que nos chama para as suas delícias, é a natureza de biliões de estrelas e planetas, que, cada um como uma obra de Arte irrepetível e cheio de prazeres ocultos para oferecer, se presenteia para que os nossos olhos um dia, as possam ver em pormenor. E não será isso o máximo a que poderemos querer ascender: não a ser "importante" mas a ver, partilhar, comungar, de tanta Beleza que Existe?

Eu, pela minha parte, prefiro ser insignificante num mundo imensamente Belo, do que o Rei da Porcalhota.

Alguns de nós foram construindo telescópios, microscópios, reais e mentais, como Darwin, que pesquisou, de navio e pelas suas observações e com a sua mente, a história real da Terra. A gigantesca maioria de nós prefere encerrar-se em crenças que nos dão importância. Muitos físicos e biólogos, por exemplo, vêm o homem como uma espécie de criação suprema, que chegou a um conhecimento quase absoluto, que a vida inteligente deve ser raríssima no cosmos e outras presunções do género. A importância de se ser importante, tão presente no primata, não é dissipada apenas pelo cultivo da ciência. Conversamente, há muitas pessoas religiosas que são humildes, que procuram, que estão abertas ao Mistério que é existir.

Mas, apesar disso, de forma geral, o Vitral representa para mim todas as nossas teorias, aquilo que pomos à frente do mundo, entre quatro paredes bem fechadas, para nos proteger de todos esse infinito, enquanto o telescópio representa a vontade de ver mais longe, de quebrar todas as barreiras, de aceitar toda a tragédia da nossa insignificância em nome do Encontro com a Realidade.

Talvez ambos sejam necessários, talvez o vitral e o pequeno mundo que ele encerra, seja como a nossa barcaça, o alicerce para o telescópio apontado sobre o mar imenso que se estende a perder de vista.

Essa vontade de infinito vai contra tudo o que temos implantado em nós como espécie gregária e sedenta de poder e segurança. Por outro lado, o homem-Artista, o homem-Filósofo, o Descobridor, o Criador, o Viajante, não podem querer menos do que isso. Para eles o "Eu" não interessa, só a Aventura do Encontro fascina!

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

O homem evolui apesar da sua ambição

Deixa-me ir brincar, podia ir fazer um motor que ia ajudar-te mais do que 20 pessoas...
Não sejas mandrião... vai trabalhar, vai cavar, ceifar, mondar, é para isso que te pago, senão não comes...
Mas podia descobrir mil coisas, outros alimentos, o que são as estrelas, curas...
Vai trabalhar malandro...
Mas...
Já te disse...

E assim pelos milénios fora...

Mas o homem acaba por evoluir, mesmo assim, apesar da sua busca desenfreada pelo agora, há quem veja mais além e, ocasionalmente, consiga brincar o suficiente para aprofundar a "nossa" visão do mundo...

domingo, 4 de setembro de 2011

O melhor da vida é gratuíto: viver apaixonado por tudo

Há quem diga que o melhor da vida é gratuito. Parece-me que o amor, a liberdade, a honestidade, são realmente coisas desligadas da vida social e, portanto, do dinheiro (que só existe como instrumento de ação social). Por outro lado, para estarmos livres para pensar nessas coisas precisamos do básico assegurado, precisamos de saúde, de não ter dores, ou prisões (subserviência em relação a medos, desejos ou pensamentos). Em suma, precisamos de ter liberdade mental, física e emocional suficiente para escolher e desenvolver esses tais bens gratuitos.

Ora essas coisas básicas por vezes são impossíveis de obter. Por exemplo, muitas criança nascidas em famílias fanáticas que lhes impedem o acesso normal à informação e aos outros, e as inculcam, desde a nascença, com medos, preconceitos e falsos ódios e ideais, dificilmente sairá desse ciclo de violência. Do mesmo modo, quem nasce e vive com fome dificilmente terá oportunidade para pensar em mais do que em comida. É preciso uma base, um conjunto bastante grande de coisas que fazem "a casa estar arrumada", para depois ser livre e ser feliz com as tais coisas gratuitas.

Mas há ainda um outro aspeto: mesmo quando já se tem a casa arrumada, há um preço enormíssimo a pagar para ter as coisas gratuitas que é: pô-las no topo da hierarquia.

Parece fácil, mas não é. Sobretudo com tantas "tentações" ou armadilhas. Isto é sabores deliciosos que nos conduzem de volta a prisão, de volta a ter dono e medos e mentiras. Afinal é disso que se alimenta a sociedade, redes de dependência.

http://letras.terra.com.br/adriana-calcanhotto/66697/


domingo, 28 de agosto de 2011

Inveja e grandiosidade

Socialmente a inveja é apenas mais um daqueles pequenos pecados ou imperfeições que o ser humano tem, como a cobiça, mentira, etc. Mas para mim a inveja tem um papel muito especial porque normalmente é tão subtil que nem damos por ela.

Por exemplo, eu não gosto muito de râguebi. Gosto de olhar para as estrelas e ver o mar e pensar sobre o mundo. Para mim os jogadores de râguebi fazem pouco isso. Vivem uma vida diminuta, mesquinha, ocupada com pequenos prazeres. Pareceria então que não poderia ter inveja deles, certo? Mas é o oposto que sucede. É precisamente porque tenho inveja deles que os acho diminutos, o que é bastante contra-intuitivo, mas, pelo menos no meu caso, verdadeiro. Senão vejamos:

Um jogador de râguebi tem imenso prazer com a sua vida. Se ele não passar a maior parte do seu tempo a olhar as estrelas ou o mar é porque, no caso dele, não aprecia isso o suficiente. Pelo contrário é bem sucedido naquilo a que realmente dá importância. Lutou pelos seus sonhos, empenhou-se e agora partilha o seu sucesso com família, amiga e adeptos. É um realizador de sonhos, é um felizardo. Como se pode menosprezar alguém assim, que brilha nos estádios, que está "no topo do mundo"?

A ideia é, claro, desprezar tudo o que ele conquistou. Tal como ele poderia desprezar tudo o que nós conquistámos. E, com tanto desprezo, nós, eu, emerjo como o grande vencedor: os jogadores de râguebi não têm valor, os políticos não têm valor, os velejadores não têm valor, os ricos não têm valor, os que vencem as dificuldades do dia-a-dia não têm valor, etc, etc... Só eu, ganda Pedro, tenho algum valor. Só eu sinto as diabruras da vida, só eu a vivo no seu esplendor, só eu, verdadeiramente, valho a pena, só eu... o universo inteiro podia ter sido feito só para mim, sou tão grande e glorioso, eu, eu, eu...

Claro que, conscientemente, ninguém no seu estado normal pensa assim. Mas se nós deixássemos que a felicidade dos outros nos invadisse. Se nós deixássemos de sentir inveja pelos amantes abraçados e ternamente enleados, pelos famosos e ricos, que comem sempre em restaurantes luxuosos e conhecem todas as pessoas importantes, pelos jogadores de futebol e râguebi, pelos surfistas nas suas ondas prateadas de sol, pelas crianças imersas nos seus jogos sem fim, pelas andorinhas deliciadas com o voo, pelas joaninhas deliciadas com as flores, pelas abelhas, dançando de maravilha em maravilha, pétalas e cheiros e sabores de Paraíso, pelo velho olhando com melancolia o campo sereno, pelos albatrozes que regressam, depois de meses de viagem, ao seu companheiro para toda a vida, pelos leões marinhos que dançam felizes nas águas, pelo banqueiro que se ri com todas as suas notas, carros e ares de altivez... se o egoísmo não nos cegasse, viveríamos num mundo onde a maior parte dos seres é muito feliz a concretizar os seus sonhos, quaisquer que eles sejam.

Mas nós somos cegos, invejosos. Do homem da padaria, da mulher do talho, da criança pobre, do animal - pobre animal que não é humano, vida selvagem que é comer ou ser comido, a lei cruel do mais forte! - do jogador obtuso, do cientista insensível, do político corrupto, dos trabalhadores explorados, dos ricos ladrões, dos surfistas preguiçosos, de todos os que têm o que não deviam ter e de todos os que não têm o que deviam ter.

A inveja faz-nos viver num mundo feio e pobre. É o mundo que os nossos olhos vendados conseguem ver. Nesse mundo o Pedro é o Maior (para o Pedro). Tal como o Alberto é o Maior (para o Alberto). E todo o restante mundo anda perdido, coitadinho...

É um mundo triste e pequenino, e quanto mais triste e pequeno mais o eu que o vê brilha, na sua grandiosidade, na sua imensidão contrastante.

eu tive de escolher entre os dois mundos. Preferi perceber que é bom ser jogador de râguebi ou futebol, que é delirante, que é fascinante, como ser modelo, como ser padeiro, como ser chefe de família, como ser político, como ser escritor, como ser jornalista, como ser urso ou salmão ou leão marinho... O mundo está cheio de felicidade. De seres que se acham grandiosos, de seres que buscam, de seres que encontram, de seres que se seduzem, de seres que desistem, mas sempre, sempre, em aventuras mil, sempre ocupados com os reflexos deste Sol que ainda não nos abandonou e que um dia vamos ter de substituir pela nossa própria criatividade.

Sou pequeno, insignificante até, burro, reduzido, limitado, quase a morrer, parcial, uma gota de água efémera num Oceano imenso, mas inundado da felicidade que vem de todos os lados. Alimento-me dos prazeres dos outros. Enquanto cá estiver a vida vai passando por mim. Digo adeus à inveja e olá à minha pequenez e à felicidade de tudo. São dois lados da mesma moeda.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Prazer e Felicidade

Há coisas para nós tão óbvias, como a de que o prazer pouco ou nada tem a ver com a felicidade que achamos estranho como é que tantas pessoas procuram uma à espera de encontrar a outra. No entanto nem sempre foi óbvio para mim. Lembro-me de pensar nisso quando andava na faculdade, não foi tanto a partir de um livro mas de uma música que me despertou, dizia assim:

"Todos nós pagamos por tudo o que usamos
O sistema é antigo e não poupa ninguém
Somos todos escravos do que precisamos
Reduz as necessidades se queres passar bem
Que a dependência é uma besta
Que dá cabo do desejo
A liberdade é uma maluca
Que sabe quanto vale um beijo"
(Jorge Palma, A gente vai continuar)

Esta assimetria entre liberdade e dependência pôs-me a pensar. Do que é que precisamos? Em geral do que nos dá prazer ou que pusemos na cabeça que queremos. Mas é muito subtil a diferença entre fazer o que se quer (por liberdade), e fazer o que se precisa (por dependência). Por exemplo, quando eu como o primeiro palmier (adoro palmiers), é normalmente porque quero, mas quando já vou no terceiro já é por dependência. A diferença é tão subtil que praticamente todas as pessoas a ignoram e muitos defenderiam que é apenas uma questão de super-ego a interferir com os desejos e impulsos mais primitivos. O conflito entre a nossa natureza e a cultura. Tudo bem, admito, isso acontece. Mas não é disso que estou a falar. É algo muito diferente.

Para mim a felicidade é apenas isto: realizarmos o nosso sonho que só nos podemos saber qual é, ninguém nos pode dizer. Na verdade é muito difícil saber qual é o nosso sonho. É preciso estar em silêncio muito tempo, procurar muito bem no fundo de nós (como Bastian, no fim do livro, A História Interminável), o que por vezes leva muito tempo. E então, se tivermos sorte, descobrimos: o nosso sonho, o que realmente queremos fazer. É um sonho que não se diz por palavras, muitas vezes enigmático, por vezes mutável ou aparentemente mutável, por vezes indecifrável, outras vezes óbvio. Dizem que é o sonho que comanda a vida, mas este é um sonho pessoal e intransmissível, que "não pertence a mais ninguém" (como diz a música: "Um lugar ao Sol"). Só depois de termos um sonho é que podemos ser felizes. Porque a felicidade é a realização desse sonho, é pôr em prática o que já somos em semente, ou implicitamente, e torná-lo explícito, real no mundo. Isso é que é, para mim, a felicidade.

O prazer leva, em geral, à dependência, porque o corpo habitua-se e quer mais, e porque ficamos tão focados no que nos dá prazer que esquecemos tudo o resto. A felicidade é um contacto, uma expansão. É como se a semente entrasse em contacto com a terra e procura-se nutrientes, água, um sítio fofinho, ela tem de conhecer tudo, interagir com tudo, e depois começa a ver o sol e aí vai. É uma caminhada da parte para o todo, do minúsculo e incompreensível, para o visível e consciente. A felicidade é um crescimento, o prazer é apenas ser parte da máquina, do mecanismo.

Por isso, em geral (apesar de haver exceções), quem procura o prazer encontra a dependência, quem procura a felicidade abre-se ao mundo, apesar de por vezes encontrar muita dor.

terça-feira, 26 de julho de 2011

A dúvida, a crença e o trivial

É interessante pensar em tudo o que não sabemos: quem somos, de onde vimos, para onde vamos, o que devemos fazer, etc. Com base em toda essa ignorância construímos grandes castelos de crenças. Damo-nos nomes, princípios e ideais. Definimos um bom e um mal, imaginamos um Deus qualquer e depois afirmamos que sim, que temos a certeza absoluta que existe, e outras coisas que tais. Quando no fundo, a vida é bem mais simples e bela assumindo que se ignora o que se ignora, e vendo o que se escapa no meio de toda essa ignorância.

Por exemplo, não sabemos se os animais são conscientes, não sabemos se as pessoas chamadas "Marta" são conscientes, não sabemos se às terças, quintas e sábados estamos todos conscientes (hoje é terça) e nos restantes dias não. Ou talvez hoje seja o único dia do ano em que estamos todos conscientes e apenas nos pareça estarmos conscientes durante toda a nossa vida passada.

é claro que o "bom senso" reduziria todas estas especulações a menos que parvoíces: «olha, olha, está a armar-se em bom», ou «olha, aquele é maluco! deixa-o lá». Mas o que é certo é que no meio destas incertezas todas surgem certezas do tipo bem diferente das crenças do dia a dia. Por exemplo «estou consciente» não é uma crença, é uma evidência. Também é evidente que se eu achar que os animais a que nós chamamos irracionais não sentem nada então nunca vou procurar saber o que sentem. A minha vida vai ser mais pobre. Se eu achar que todas as pessoas chamadas "Marta" são desinteressantes a minha vida provavelmente vai ser mais pobre, porque há potencialmente muitas coisas que não vou aprender vindas de pessoas chamadas "Marta". E se eu achar que hoje é o único dia do ano em que estamos todos conscientes isso obrigar-me-ia a ter uma epistemologia, ética e cosmologia tão especial que nada do que faço agora faria sentido (nem se percebe bem que atos ou desejos fariam sentido numa tal visão - talvez viver tudo neste dia e tentar marcar tudo o que é interessante para o próximo dia 26 de Julho de 2012 - programando, entretanto, os maiores sacrifícios para as datas intermédias). Essa visão, podemos tentá-la, parece trazer muito sofrimento.

Portanto, apesar de termos poucas certezas, há uma certeza que podemos ter, há hipóteses que parecem funcionar bem, trazer os resultados esperados, uma vida rica, diversificada, em crescimento, onde se vê cada vez mais longe, onde se sente mais, onde se é mais. Outras perspetivas em que é tudo mais pequeno, afunilado, monótono, em processo de morte. Nós podemos escolher. É como escolher entre o amor ou o ódio. É claro que podemos dizer: Deus blá blá blá, é bom amar, é imperativo amar, etc e tal. Tudo isso carece de justificação, e, pessoalmente, não encontro nenhuma para qualquer tipo de raciocínio que nos diga o que é melhor.

Mas é simples concluir que se amarmos (porque amar é também tentar compreender sem destruir) teremos vidas muito mais ricas e variadas, cresceremos mais, evoluiremos mais, viveremos mais coisas. Enquanto que se odiarmos (e odiar é também criar uma distância, separação, defesa) ficaremos cada vez mais sós, pobres, isolados, próximos do nada.

O que é melhor: crescer ou diminuir? Ter uma visão cada vez mais vasta, diversa e articulada, experiências mais do todo, ou, pelo contrário, uma visão mais limitada, monótona e contraditória, uma experiência de uma parte cada vez menos da realidade (o que quer que isso seja)?

Sinceramente não sei.

Mas sei o que prefiro. E o caminho que vejo ter traçado até aqui parece-me mostrar isso.

K-Pax

"be ready for anything"

2 trivialidades

. estar aberto a todas as possibilidades significa que tentamos "A" (porque somos humanos e temos desejos) mas tentamos sobretudo estar preparados para todo o alfabeto (porque vivemos num mundo gigantesco que nos ultrapassa).
.. dizem que "tudo acontece por uma razão", o que parece verdade (exceto a nível atómico), mas isso não significa que a razão tenha a ver connosco. Ou seja, o facto de tudo acontecer por uma razão não significa que um de nós é o centro do mundo e tudo acontece por causa dele/dela.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Quem sou eu? Focagem e recordação - a alquimia das sensações

Máquina - coração...

mente - sensação...

experiência - imensidão,

vasta como a matéria...

Espalhada pelos quatro cantos do universo,
panpsiquismo...

focada e intensificada pelo olho, ouvido... que separam um pormenor do todo e permitem a imagem do detalhe. A fragmentação do todo em partes que se *vêem*...

organizada pelo cérebro em sequências a que chamamos memória, onde um eu inventado aparece como ator, agente, com motivos, razões, numa história de vida... um ponto de vista, uma perspetiva.

na verdade não passa de um agregado de sensações, tentando fazer sentido de si mesmo. Tentando dar uma unidade ao insuperável caos. Insuperável porque dividido do todo, gota de água tentando preservar a sua unidade enquanto se desprende da onda e, dentro de si, convergem as luzes e formas, para um ponto qualquer...

unidade efémera
saboreando a vida, o cosmos, a ilusão de ser um si...

quase um sim...

criando experiências, ilusões, fantasias, VIDA, estados qualitativos, cuja grande maioria não será experienciado por nenhum ser em particular. Andarão à deriva, pelo ar, pelo mar, pelas estrelas e planetas, enchendo tudo de perfume, eis a nossa marca, eis o nosso legado... não tanto o que fazemos mas o que sentimos e que reverbera com tudo o resto

quarta-feira, 18 de maio de 2011

ver pedacinhos do todo em cada parte

Quem sou eu?



Quem sou eu? Pobre, rico, estulto, genial... inseguro necessariamente, porque, neste jogo de espelhos e imagens, onde tudo só o é por comparação, por relação,

o pequeno só é pequeno relativamente a algo grande
mas grande relativamente a algo ainda mais pequeno.

O nosso planeta é grande, um grão de areia é pequeno?
Qual o meu tamanho?

Só o sei por comparação. Comparado com o metro, com o ano luz, com o ångström...

Somos mestres da comparação. E alguém poderá dizer: tens uma medida precisa, qualquer que seja a unidade de referência com que te compares.

É verdade! Mas a segurança da comparação (és realmente mais forte que X, mais alto que Y, mais amado que W, mais sábio que Z) não resolve a insegurança de múltiplas comparações (és realmente mais fraco que A, mais baixo que B, mais desprezado que C, mais confuso que D).

Quem sou eu? Neste jogo de imagens, senão algo necessariamente inseguro, volátil. Que de um lado parece uma coisa e de outro já outra? Por vezes o seu contrário absoluto?

Quem sou eu? Quem sou eu?

E a resposta é... só pode ser...

Uma incógnita.

Um ponto de interrogação. Como tudo o resto.


Qual o valor de uma pedra, de um rio, de uma estrela, de um caminho, de uma viagem?

Sabemos qual o seu valor relativo, a mim, a outros. Mas, quanto ao seu absoluto valor, ignoramo-lo até se terá. Haverá um tamanho absoluto, uma distância absoluta, um tempo absoluto?

Talvez todas estas quantidades sejam relativas, só façam sentido para um observador.

Tal como na teoria da relatividade somos capazes de compreender como diferentes observadores medem o tempo e o espaço de maneiras distintas, talvez seja esse o único absoluto a que podemos chegar: uma espécie de "métrica" que nos diz quais os diferentes valores para observadores possíveis.

Ou seja, eu sou formiga microscópica e desmesurado Atlas, consoante se veja do ponto de vista do planeta ou da pulga. Podemos extremar o quanto quisermos. Serei universo infinito para o átomo ou átomo invisível para a Galáxia, etc. Do ponto de vista do momento "eu", "Pedro", sou uma sucessão gigantesca, incontável, de momentos diferentes. Parece que nunca mais acaba. Mas, do ponto de vista da história da humanidade (vamos começar à 3 milhões de anos, por exemplo), toda a minha vida é uma gota de água num rio imenso.

Espartilhado entre todas estas imagens do que sou, tão diferentes, tão opostas, tão inintegráveis, tão verdadeiras, tão parciais, tão complementares, tão incompletas...

resta dizer o essencial: é que eu sou um desconhecido. Desconhecido até para mim mesmo, que me sou, por dentro, e me deveria conhecer, mas não conheço.

Mas nisso, pensando bem, não há nada de estranho: pois não conheço nada a fundo, tudo é misterioso, desde o tempo e o espaço, aos objetos do dia-a-dia, forjados no centro de uma estrela que morreu dando-nos à luz. Buracos negros, teorias de cordas, matéria e energia "negra", consciência e cérebro, matéria e cor...

Só há uma coisa que sei...

que nada sei. Sou um perfeito desconhecido, num mundo desconhecido com um propósito desconhecido.

E a aventura, a mais bela que conheço, é a de tentar mergulhar nestes Mistérios, todo inteiro, de corpo e alma e mente, e vivê-los tentando desvelá-los e desvelar-me neles.

Quem sou eu?

Sou aquele perfeito desconhecido que procura a Liberdade, a nudez, a verdade.

sábado, 7 de maio de 2011

Vício e liberdade


Vício é tudo o que se faz por ausência de liberdade.

Por vezes define-se um vício pelas consequências que traz. O desporto, trazendo saúde, não será um vício, já os jogos de computador em demasia, serão um vício porque trazem consequências más.

É uma perspetiva válida e interessante, mas eu, que não quero separar-me do fogo interior da minha liberdade, procuro outro tipo de visão.

Para mim "vício" é aquilo que me rouba a liberdade, é o que faço pensando, ao mesmo tempo "podia estar a fazer algo melhor". E não mudo. Mantenho-me na rotina, prisioneiro de pequenos prazeres e ânsias que se repetem ad infinitum... E quanto mais ando à roda à procura desses pequenos prazeres, mais me perco de mim, até que, às tantas, já nem sei que há um eu, lá dentro, a tentar ser livre, voar no fogo efémero da vida e explorar todas as suas possibilidades, tanto quanto consiga.

Mas lidar com um vício é difícil. Não se pode proibi-lo simplesmente, porque senão ele fica lá, a arder, ou é simplesmente substituído por outro, como o vício da ordem e do poder sobre si próprio. Que pode dar melhores resultados, mas que quero eu saber de resultados, se só me importa a chama da liberdade?

Por isso, para lidar bem com um vício, não é bom prendê-lo, proibi-lo, torná-lo ainda mais apetecível ao prisioneiro que somos nós, privados dele.

Em vez disso, não fiquemos aquém dele! Superemo-lo! Deleitemo-nos nele! Abracemo-lo inteiros. Com um gozo nos olhos, um sorriso nos lábios e o coração cheio de esperança. Abracemo-lo sem nos esquecer do sol, que há um mar e uma terra, e estrelas por toda a parte. E que aquele vício, tão apetecível, é mais um diamante numa terra de diamantes. Aproveitemo-lo bem, até ao tutano, até ficarmos cheios. E depois procuremos outras paisagens, deixemo-nos conduzir sempre pelo nosso interior. Que não está em luta com nada, que não recusa nada, apenas não quer ser amarrado. Apenas não quer ficar limitado. Apenas quer voar até ter vontade de ficar parado.

Livre, livre para viver os vícios, livre para se livrar dos vícios, já não há vícios... pois não há nada melhor, mais apaixonante, que viver o fogo da própria liberdade...

Velho!


Paralysis. Cada gesto é um esforço, tudo convida à quietude, a vida morreu, a pele está velha, cansada, sente-se os ossos, o esqueleto. Nem me lembro de quando era água viva, fluída e risonha. Vêm-me à memória esses tempos como imagens de uma criança que em tempos conheci, uma criança muito distante que não poderia voltar a ser, nem sequer imaginar-me a ser.

As crianças parecem vir de lugares tão distantes. A sua energia, a sua força, falam como que de um paraíso perdido. Eu, que estou, como dizem, "com os pés para a cova". Arrasto-me, lamento-me, vejo a hora chegar... a hora da partida final. E só consigo pensar: mas porque dura tanto tempo? Noutros tempos morríamos logo, na flor da vida. Hoje, tantos medicamentos, operações, cuidados, alimentação, aquecimento e tantas outras coisas, vão-nos mantendo e mantendo e mantendo, até que começamos a apodrecer pelo interior. Vamos vendo as coisas a começar a falhar. Primeiro o sistema circulatório já não é o que era, a visão piora, a força enfraquece, a agilidade desaparece... um a um os sistemas vão parando até que olhamos com alguma surpresa para aqueles que se mantém "vivos"... os resistentes no meio da debandada geral...

Pergunto-me se não seria melhor abandonar esta vida ainda pleno de jovialidade. Mas é só a parte infantil e saudosista que o pergunta. Porque eu, verdadeiramente, a luz da consciência, está-se, verdadeiramente, nas tintas. E quer apenas, absorver, nos seus vários matizes, os cambiantes da vida. Um jovem incapaz de imaginar um velho, um velho incapaz de se imaginar jovem, eis a única pobreza, de visão, a interior.

E se bem que o meu corpo esteja a morrer, dia a dia, em declínio fatal, a viagem não é menos bela, menos autêntica, menos atraente. Como um passeio de bicicleta em que chegámos àquele ponto em que começamos a voltar para trás, já olhamos com alguma saudade para a viagem que não se irá repetir, nunca mais, pelos milhões de anos fora. Outras aventuras se viverão no mundo, quase todas com outras personagens e contextos... mas agora, aqui, eis a oportunidade de cheirar mais esta flor, de ver mais este rio, de sentir mais este momento, pleno de tudo.

Sim! Morra a carne, apodreçam os tendões, absorva-me a dor e encha-me o peito esta vontade de ficar imóvel... Eu verei tudo, apaixonadamente como sempre, detalhadamente, quanto puder... lá estarei, no momento da doença, da desgraça, da perda do que tanto se valorizou... e quando os meus olhos, lentamente, se desfocarem do mundo visível, acho que vou chorar, de pena, por não ver as serras e os mares, as estrelas e as flores, a pele e os seus poros e pelos, os teus olhos, tão belos e cheios de perfumes e mistérios de outras dimensões...

Mas na minha mente, cada vez mais reduzida e senil, gostaria de conservar pelo menos esta verdade: que o mundo é maior e mais belo do que aquilo que sou capaz de ver...

que o mundo é maior, muito maior, e mais belo, muito mais belo, do que aquilo que sou capaz de ver...

e mergulharei na escuridão dos tempos, e o Pedro nunca voltará... nunca mais...

mas virão biliões de biliões de outros Pedros, tal como eu vim... e brilharão, como eu, à luz do sol e tremerão ao frio da chuva, e viverão mil aventuras e terá valido a pena porque sim! porque sim

quarta-feira, 20 de abril de 2011

A sede do reconhecimento (eu) e a aventura de viver (tudo)

Casacos, blusões e botas. Estamos preparados, para ser, para enganar, com a imagem esconder e até esquecer, o quê? Já esqueci!

Na luta da música, são sorrisos vendidos, trocados, abraços dados sem se saber quem os dá, no baile de máscaras podemos ser aquela imagem que queremos ser.

Cool, muito cool!!

Os meus óculos, as minhas botas de marca, as minhas calças de marca. Sempre a frase apropriada, sempre com estilo, sempre a saber o que dizer.

Ei, sou eu, estou aqui.

RECONHECE-ME!!

RECONHECE-ME!!

LOVE ME, LOVE ME!!

ACCEPT ME, ACCEPT ME!!

We scream and dance and shine...

Barafustamos para ter o que alcançamos - somos reconhecidos como a imagem que desenhámos na parede, com cores vivas e garridas...

Mas, apesar dos abraços e dos sorrisos, falta algo...

Onde é que estamos, onde é que estamos, onde é que estou...?

Perdido, na imensidão, redescubro-me nas ondas de um mar sem fim...

Erguendo-me às altas montanhas, procurando respostas nas árvores e nos rios... nada encontro. Não estou em lado nenhum, vejo-me refletido em toda a parte.

Sou um mistério, incógnito, até para mim próprio. E o mundo é também um mistério que desconheço.

Os outros são mistérios também.

Estou sozinho e, parece-me, estamos todos sozinhos. Mas há quem se perca na máscara. Há quem se esqueça que há algo mais profundo que superfície do fato e dos óculos.

Esses vivem a vida de fantoches, guiados por mãos ancestrais e impessoais, da tradição, dos genes, da peer pressure... são bonecos comandos à distância... agem mas não sabem porque agem, porque desejam, porque temem, porque creem, porque odeiam, porque procuram, porque querem, porque prosseguem...

Vivem a vida como um sonho do qual ainda não despertaram...

E eu, eu também não despertei, sei apenas que tenho os olhos fechados.

Sei apenas que nada sei,

Sei que quero saber.

E procuro, debaixo das pedras, por entre os rios, em cima das montanhas e por baixo dos mares, para lá do sol, nas minúcias dos átomos, na beleza das nuvens, no prazer do sexo, nos mistérios do amor e da vida, procuro... mais do que a mim, mais do que o sonho, mais do que a Beleza. Procuro a Realidade,

e, não a encontrando, vou viajando...

Viajando na Realidade, um horizonte sempre novo, muitas aventuras constantes, e, por vezes, amigos que partilham connosco a viagem, as tempestades e os oásis.

Não estou triste por estar vivo. Afinal, só se vive uma vez e o facto de cada momento ser único, irrepetível, é o que dá a esta confusão letal (porque a vida é letal em cada momento que aniquila o anterior) a riqueza de encontrar o todo, implícito, em cada parte.

Adivinha-se por trás das sombras e das linhas, aspectos de algo que nunca se mostra.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Só se vive uma vez

Só se vive uma vez.

Nenhum momento volta atrás para refazer o que se fez.

E o caminho leva inexoravelmente à morte...

Durante os próximos mil milhões de anos vou estar muito tempo morto.

Como aquele que está prestes a morrer, mas ainda tem sentidos e alguma razão ao seu dispor, aproveito as últimas imagens deste universo imenso.

Depois virão outros olhos e outras mãos, outras aventuras tão ensimesmadas em si mesmas que me lembrarão tanto a mim como eu lembro os que vieram antes de mim... e os milhões de anos irão passando. Os continentes, gigantes, farão e dissolverão novas Pangeias.

Mas, por enquanto, aqui e agora, é a minha vez, a vez desta formiguinha dançar e pular ouvir a música num mundo imenso.

quinta-feira, 10 de março de 2011

O macaco que aprendeu a gostar de tudo

Aquilo porque nos sentimos atraídos no momento é uma ínfima parte do que gostamos. Eu posso gostar das altas montanhas dos Himalaias mas não gostava de lá ir agora. Na verdade a esmagadora maioria das coisas de que gosto raramente me atraem. Por exemplo, gosto de imensos sítios mas só uma ínfima quantidade me atrai neste momento, gosto de imensa música mas apenas uma pequena quantidade me apetece ouvir agora, gosto de imensa comida, etc, etc.

Podemos pensar que gostamos de tudo o que alguma vez desejámos ou conseguimos imaginar-nos a desejar. Mas na verdade há imensos sítios que acho imensamente belos, como por exemplo o interior do sol, a perna de um besouro, a espuma de uma onda do mar, a linha de uma folha de árvore, que não me são úteis, que não consigo alcançar ou agarrar. Como poderia um ser humano sentir-se atraído pelo centro do sol? Talvez se possa dizer que aquilo que me atrai nas fissões nucleares dentro do sol é o que provocam: a vida na terra, a minha própria vida. Mas há muitas outras coisas, como as tempestades de Jupiter, ou os anéis de Saturno, que costumo imaginar e que acho de uma beleza estonteante mas que não parecem contribuir nada para a minha sobrevivência como animal. Talvez se possa dizer que ver beleza nesses objectos contribui para a sobrevivência do homo sapiens, pois desenvolve uma curiosidade, uma atracção, que nos leva a aumentar a nossa adaptabilidade ao meio. E talvez seja por isso, afinal, que acho tantas coisas belas, muito para além dos desejos ligados aos sentidos. O homo sapiens, esse macaco curioso suportado pela linguagem, é capaz de desejar a compreensão, de achar bela a compreensão de algo: uma pessoa, uma sociedade, um formigueiro, a pata da formiga, uma célula e a sua aparentemente infinita complexidade, um buraco negro, a visão, a matemática.

Essa amplitude do gosto levou-nos a abrir os braços, os ouvidos, os olhos, para uma realidade muito mais vasta. Não é que queiramos tocar o sol com a pele, queremos estar lá na imaginação, uma imaginação tão precisa que inclua os mais breves momentos, as mais pequenas quantidades de matéria, tão abrangente que inclua biliões de anos e todo o universo visível.

Achamos belo, maravilhoso, todo o universo, e tornamos a nossa colmeia um pouco melhor, assim que os engenheiros convertem essas visões em computadores, iluminação, armas, estradas, membros artificiais e outros que tais. E a evolução tecnológica permite uma maior compreensão em passos sucessivos onde o homem se transforma no Deus que imaginou e que o guia através dos milénios que atravessa em direcção à imortalidade e a uma outra forma de viver onde as experiências isoladas dos seres que viveram antes dele confluam numa mente una e tão vasta que qualquer das nossas mentes, mesmo as mais inteligentes, não pareceriam mais do que uma gota num oceano.

Um macaco que gosta de viver em união com tudo.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

O gentleman no campo de batalha

A tradução mais simples de "gentleman" para português é "cavalheiro". No entanto as duas palavras têm, nas respectivas línguas, significados bastante diferentes e essa diferença, aliada ao facto de não haver em português qualquer tradução correcta para a palavra "gentleman" manifesta uma cisão cultural profunda sobre o papel do homem, do masculino, na sociedade.

Para os ingleses um gentleman é um homem que é "gentle", ou seja, gentil, suave, delicado e atento em tudo o que faz. Em português temos uma palavra para este género de homens: chamamos-lhes larilas ou maricas. Um homem sensível em Portugal é conotado com uma orientação sexual: se fala baixo, é delicado, sensível, só pode dar para o mesmo lado.

Os ingleses não parecem fazer a mesma associação. Pelo contrário, um gentleman, em Inglaterra, é considerado o expoente máximo da boa educação, da cortesia. Em geral será uma pessoa ilustre, pelo menos quanto aos modos.

O que pode explicar esta diferença? Bem uma das razões é esta: os ingleses têm uma tradição de guerra, lutas feudais e outras, foram conquistadores do mundo inteiro e a sua armada, marinha, etc, faz sentir a sua presença por todo o lado. Têm armas nucleares prontas a disparar de submarinos. São uma grande potência. Por isso, quando um homem inglês é gentil, delicado, ele mostra cortesia, pois limita o seu próprio poder perante o enorme poder que a sociedade a que pertence tem ao seu dispor.

Essa "gentleness", essa delicadeza suave é, portanto, bem vista, pois está integrada, faz parte, de uma força brutal que ninguém põe em causa e que pode ser desencadeada a qualquer momento. A delicadeza, na cultura inglesa, não é imediatamente vista como um sinal de fraqueza, pois é ela que permite, na integração social, o enorme poder do todo.

Em Portugal o mais próximo que temos disso é a "camaradagem" no exército, futebol e assim. Aqui, um tom mais suave, um sorriso, um abraço amigo, um tom conciliador, uma linguagem simpática, já não é visto como um sinal de falta de força. Mas a camaradagem é restrita a circunstâncias sociais onde o grupo tem muito poder. Por exemplo, é bem vista entre militares, numa equipa de futebol, ou qualquer outra actividade onde os homens possam ser vistos como "companheiros de luta". Aqui não há mariquice, falta de força. Pelo contrário, como no gentleman inglês, a camaradagem, o respeito, a delicadeza, são vistas como caminhos para solidificar o grupo e darem-lhe a força de actuação que ele precisa, para que muitos actuem como um só.

De forma geral vê-se que a delicadeza não é mais do que a anuência à vida em grupo, mais precisamente, pôr os interesses do outro, ou dos outros, à frente dos do indivíduo. É uma qualidade do homem enquanto animal gregário.

Então porque não se vê o cultivo do gentleman nos autocarros portugueses, nos locais de trabalho, até nas famílias? O bom pai português não é um gentleman, o bom trabalhador não é um gentleman. Talvez nas discotecas dê jeito, ou quando se quer conquistar uma miúda no emprego. Mas depois volta a personagem do guerreiro, da força a imperar. Porque em Portugal o homem ainda é visto como um guerreiro, na sociedade do "salve-se quem puder", onde o Estado é visto como uma corja de corruptos, onde escapam poucos. Nessas raras excepções, por exemplo os juízes e médicos, onde o português confia, onde acaba a guerra e começa a confiança, a civilidade volta a imperar. Então o português torna-se doce e gentil, no consultório do médico, a falar com o Sr Dr Juíz, o português todo se derrete. E aí já não é maricas: é um sinal de boa educação. A guerra acabou, já não tem de se provar. Está a ser cuidado, tratado, atenciosamente ouvido. E "amor com amor se paga", então o português derrete-se em silêncios, perguntas por fazer, delicadezas excessivas. E sai contente desses lugares, ciente de que fez um bom papel. Para logo entrar no autocarro ou no seu próprio carro e assumir o seu papel de guerreiro numa sociedade em luta, não deixando que ninguém lhe passe à frente (ou mesmo passando à frente) e ficando logo com o melhor lugar que encontrar, porque a ele, a ele, ninguém lhe passa a perna!

O mesmo se passa nas famílias. No início, quando se trata de conquistar a menina de que ainda mal se sabe o nome, é se gentil. Como se estivéssemos a ser introduzidos à família. «Que boa educação,», «o respeito! É muito gentil.» Agora, se essa delicadeza continuar pelos anos fora começa a ser vista de outra forma: passa de boa educação para simples fraqueza ou mariquice. O homem que é homem não deixa que a mulher fale mais alto que ele. Bate aos filhos quando é preciso. Impõe o respeito. Faz seguir, ou no mínimo faz ouvir bem alto, as suas opiniões e escolhas.

A família, a sociedade, em que vive o homem português, é, a maior parte das vezes, vista como uma guerra, um campo de batalha. Onde só vencem os mais fortes. Pobres dos ingleses que, a virem para cá com as suas delicadezas, vão comer porrada da grossa. E ainda piores estão os portugueses, sensíveis, delicados, que não se apercebem de viver num campo de batalha! Para eles vai um tiro de aviso: «devem gostar de comer no cú!» Agora sim, estão avisados! Ou enrijecem ou vai ser cá cada pancada! Que a gente diverte-se assim, neste país do salve-se quem puder, quem não aguentar a pancada está mal! Quem não quiser levar pancada que seja como nós: bruto, insensível, mas cá com uma couraça que nada o fere!

Enfim, não há dúvida que somos um país ainda com traços da Idade Média, mas com muitos telemóveis!

Sobre a palavra gentleman (em inglês).

Umas músicas para descontrair:





terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Deolinda - que parva que eu sou...

Eis uma música que alguns apelidam como o "hino" de uma nova geração.

Para mim é uma música cuja genialidade se confirma pela recepção que teve. Quero dizer: não é assim muito difícil inventar a música. Mas ir cantá-la para o palco e estar à espera de uma boa receptividade já me parece roçar a loucura ou, neste caso, a genialidade. A interpretação dada e a recepção conseguida mostra bem que se trata de génio. Afinal, podemos falar da parvoíce que nos rodeia, e isso pode ser bem visto!

Amazing!! Q.E.D.

A mim, no entanto, faz-me sentir triste e só.

Por exemplo, aqui está uma interpretação tirada da wikipedia: "A canção Parva que sou exprime na sua letra o descontentamento crescente de uma geração de jovens e adultos que sentem os seus sonhos frustrados pelos problemas sociais e de emprego que Portugal atravessa. A canção em estilo de Fado rapidamente foi classificada de música de intervenção"

Certamente que é uma interpretação possível, mas não é a única. No mínimo há três interpretações:
1) crítica: parva que sou porque deixo a vida passar sem aproveitar para me realizar.
2) irónico: parva que eu sou que tenho tudo sem fazer nada por isso.
3) panfletária: parva que sou por não contestar.

Aquilo que é mais chocante é a frase final "Parva não sou!" Pergunto-me: porquê? Porque contesto? As três interpretações acima vibram de sentidos diferentes com esta frase!

Bem, seja como for, eu proporia que deixássemos de ser parvos, porque há coisas bem mais interessantes: que fôssemos atrás dos nossos sonhos, da nossa música interior, porque, afinal, quem é que nos prende? Se calhar há pessoas, como o Nelson Mandela, que foram mais livres vivendo décadas no interior de uma prisão, do que eu que por vezes parece que só tenho vícios tendo tudo à mão. E o desperdício é tanto maior quanto mais nos foi oferecido e rejeitámos.

Eu poderia propô-lo, é verdade. Mas, reconheço agora, que essa proposta, de conquistar "um lugar ao sol" seria muito menos que genial, até mesmo old fashioned!! Um moralista antiquado.

Há que saber dar lugar aos novos! Eu já tive o meu tempo!!! :) Venha o hino dos Deolinda! É belíssimo e, por mim, guardo o hino dos Delfins no coração, afinal alguém terá de ficar como velho do Restelo!! :)

Parva que eu sou - Deolinda



Um lugar ao sol - Delfins

No fim de contas, prefiro estar ao sol sozinho do que à chuva acompanhado.
Porque, até onde consigo ver, é mais uma consequência da mera preferência ou vontade, e não de um privilégio ao acaso.

PS - já agora, mais um sobre denial: Smells like teen spirit

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Casamento

O Casamento...
aqui está uma actividade que pode ser vista de uma enormidade de perspectivas diferentes.

Talvez o aspecto mais interessante do casamento seja a forma como ele conjuga algo do foro do proibido e do pessoal (o sexo, a devassidão da paixão, o pecaminoso), com o foro do que é público (a família, o sagrado), e o instituem transformando, por exemplo, sexo em reprodução, paixão escaldante em laços familiares, etc.

Assim, os pais e as mães vão, nos seus melhores vestidos, reconhecer que os seus filhos vão fornicar nessa noite. E, espera-se, fornicar da melhor maneira possível, talvez selvagem, talvez delicada, mas sempre como sintoma de um grande amor, de algo que vai durar "para sempre", ou pelo menos para toda a vida. O laço dá sentido e respeitabilidade a tudo o que antes era pecaminoso.

A noiva, não vai propriamente de lingerie sexy, apesar de quase todos os adultos na festa, imaginarem os pormenores da lingerie e do que acontecerá logo à noite. Em vez dos rendilhados das meias de ligas, o que se vê é outro tipo de rendilhados: um véu longo, um vestido da cor das nuvens e que tudo tapa, exacerbando a imaginação.

O casamento é aquele tipo de eventos em que a respeitabilidade pretende esconder o que realmente se passa: aqueles tipos, a partir de agora, não só podem, mas devem dormir e f**** juntos. Não só lhes é permitido as maiores loucuras sexuais mas a isso são obrigados se querem ser um casal moderno e de "longa duração". A sexualidade é, a partir de agora, não uma fuga pecaminosa, às escondidas de todos, mas parte da comunicação e do jogo de trocas entre o casal. É algo que pode ser esperado ou mesmo exigido, falado com amigos íntimos e, até, causa para o divórcio.

O casamento tem de ser, por isso, algo de espectacular, para não parecer que estamos a falar do modo como uma rameira e o seu chulo se assumem face ao mundo. Isso seria chato, e irrealista. Afinal a mulher que diz: vou dar o meu corpo a este homem durante o resto da minha vida, está longe de ser uma rameira, porque não o faz só pelo dinheiro. Pelo contrário, fá-lo por amor, para ter filhos, para ter "uma vida", para se sentir realizada! Porque razão haveria uma pessoa de dizer: vou dar o meu corpo àquele homem durante o resto da vida, senão fosse por boas razões como estas? Para obter coisas boas e não más, como o dinheiro!!?

E o homem também não é um chulo, longe disso, mas mesmo muito longe disso. É certo que aquilo que o atrai é o sexo da mulher, sobretudo. E é certo que se ela se recusasse ao sexo provavelmente tudo acabaria passados uns meses. Mas mesmo assim, ele ama-a, quer protegê-la, fazê-la feliz, dar-lhe tudo, morrer por ela, se ela for para a cama com ele, é certo. Porque senão, torna-se talvez uma grande vaca, daquelas chatas, e ele pede o divórcio, porque não quer perder tempo com uma puritana.

Mas mesmo sendo o casamento algo muito longínquo de uma rameira e de um chulo assumirem os seus papéis perante o mundo, mesmo assim, há-que dar-lhe um aspecto imponente, e por isso é importante o local rico, os fatos luxuosos, as roupas caras e a maquilhagem, dias, semanas, meses de preparação, convites digníssimos, pessoas digníssimas. Sim, porque este homem e esta mulher, que se vão casar, são deuses, são Princípes e Princesas e, se vão f**** a noite toda, isso é lá com eles, mas não é por isso que estamos aqui. Nós estamos aqui, não só pela comida e bebida e porque seria chato dizer que não vínhamos (não tínhamos desculpa), mas para dar grandiosidade à grandiosidade inequívoca destes jovens que se vão dar no mais belo acto de amor. Que vão ser, a partir de agora, marido e mulher, pais dedicados, membros da comunidade. Enfim, partes da sociedade de grande valor e respeito! O casamento afinal não é sobre sexo, nunca foi, é sobre mostrar como somos importantes, valiosos uns para os outros, dignos e merecedores de respeito, até porque o sabemos dar, a quem merece, note-se bem.

O casamento é, antes de mais, um ritual de aceitação, tu agora fazes parte do grupo dos casados, és cá dos nossos. E vais ter os nossos vícios, os nossos problemas, as nossas tentações, os nossos dramas e adversidades. Nós compreendemos-te bem, porque já cá andamos há anos, mas não te preocupes, porque tudo vai correr bem!

Mas há um problema com esta perspectiva, antigamente até podia funcionar bem, porque o casamento era acima de tudo um contrato, no melhor dos casos fundado na obediência e respeito, e no Amor a um Deus que estava lá a velar por nós e a quem não podíamos desiludir nem por nada. Assim, quando dávamos uma beijoca no nosso amado, estávamos também a fazer um favorzinho a Deus e a cumprir as nossas obrigações perante a família e a sociedade, que era isso que esperava de nós.

Mas hoje em dia inventou-se uma nova moda e casamo-nos, namoramos, separamo-nos, tudo isso por amor. Ora, parece-me que ninguém sabe muito bem o que essa palavra significa: será paixão, uma forma intensa de amizade, respeito e carinho, preocupação, necessidade de estar com, não poder viver sem? Bem, mesmo sem saber o que é o amor, parece certo que é por ele que avaliamos tudo o que diga respeito a relações. E a única coisa certa que me parece haver em relação ao amor é que ele é uma emoção ou sentimento. Ora toda a gente sabe que emoções e sentimentos mudam. O amor muda, cresce e decresce, aparece e desaparece. Então como podemos jurar que vamos amar aquele ser para sempre? É que ele e nós mudamos...

Há coisas que não mudam, por exemplo, podemos amar para sempre um filho, um irmão, alguém de família. Mas não é esse tipo de amor que achamos que sustenta uma relação casadoira. O amor fogoso da paixão vai e vem, e normalmente muda de objecto, ou melhor, de sujeito amado.

Nesse sentido, moderno, de relação, o casamento é uma de três coisas: um sonho ou idealismo, uma aposta ou uma mentira. É uma tentativa de ocultar a imprevisibilidade e reino do coração substituindo-o com frases como "vou amar-te para sempre" e que têm o valor que todos conhecemos. A própria pessoa que a diz sente aquele sininho da consciência: «se calhar é mentira», mas tenta acreditar que é verdade, ou diz a si própria «ele precisa de ouvir isto», ou, pior ainda, acredita mesmo, porque ainda não viveu o suficiente.

Enfim, como podem ver sou um idealista em relação ao casamento!!!

E, para o provar, aqui vai mais uma melodia:

Só há um caso em que o casamento me parece, não uma fuga, mentira, demonstração de riqueza, espalhafato social: é quando as pessoas se amam verdadeiramente e querem amar-se durante toda a vida e mais além e o casamento é então o símbolo desse amor, dessa enorme vontade de estar, para todo o sempre um com o outro. E é um sentimento tão feliz, tão enorme, tão sem fim, que espalha felicidade a toda a volta. Então os familiares e amigos, os verdadeiros amigos, são contagiados por este prazer sem fim de estar um com o outro, e querem partilhar dele e celebrá-lo. Então vestem-se bem e aperaltam-se todos, passam dias a pensar na sorte que aqueles dois tiveram por se terem encontrado, bendizem-lhes a felicidade, congratulam-se por eles, e, no dia do casamento, aparecem, muito alegres e contentes, dispostos a acreditar, a dar-lhes o melhor, a rir e a brincar, sobretudo a celebrar um tão alegre acontecimento e sucessão de acontecimentos e desejam então, sinceramente, quase a chorar, as melhores felicidades, que fiquem juntos e felizes para sempre, tão bonitos que eles são!!!! E então é um dia lindíssimo e toda a gente dança como se voasse e ri como se fosse para sempre,

e, este sim,
é um casamento feliz
por amor
que dura para sempre
nem que seja
só por um dia, por um momento!!!

um sorriso, uma dádiva, um olhar
que vale por uma vida inteira!!!

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

verdade e clareza

não procuro tanto a verdade mas sim a clareza
até porque é difícil procurar algo que nem sabemos a que se parece (o que é isso "a verdade"?)
é mais fácil procurar a invisibilidade (clareza) que é apenas a ausência de distorções ou bloqueios
entre o que quer que nós sejamos e o que quer que esteja para lá de nós...

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Coisas fúteis - pilhas

Bem, para um blog filosófico falar de pilhas recarregáveis pode não ser muito apropriado, mas o que é certo é que já me andava a chatear com nunca saber qual a capacidade das pilhas, novas ou usadas, que tinha cá em casa.

Vai daí decidi comprar um aparelho super-caro, que dá por muitos nomes, mas que normalmente tem a terminação "BC-700" ou "RS-700". É um carregador de pilhas que também dá para ver a capacidade (em mAh) de cada uma. Aqui vai uma foto do bicho:


E cá está a prova! Pilhas cuja capacidade não tem nada a ver com a capacidade anunciada!! Agora sim, vou poder começar a organizá-las segundo o que valem e não segundo o que dizem que valem!

Já agora, pilhas recarregáveis mesmo boas há poucas. As melhores são umas que se descarregam pouco, mesmo ao longo de vários meses, está aqui um artigo independente (em inglês) a algumas dessas pilhas:


PS - o "bicho" custou 34,33€ na amazon alemã (já com portes)