quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

O Mundo...

porta aberta para o Infinito...

(infinite Worlds)

(infinite Complexity)

- Mas dizes que está sempre aberta?
- Sempre, sempre!
- Mas às vezes há obstáculos?
- Só a nossa vontade.
-Tás a gozar, um miúdo em África a morrer à fome, e tu dizes: «ah! pois, mas ele tem a porta aberta para a eternidade» ou infinito ou o que quer que seja! É ridículo, mais, é quase um assassínio, pois toda essa filosofia do tipo nascemos no melhor dos mundos possíveis, só leva a uma desresponsabilização grosseira que, numa perspectiva de mínimo bom senso, só poderá ser entendida como o cúmulo do mais abjecto egoísmo.
- Depreendo portanto que não gostas?
- Tás a gozar, tu és um assassino, e em massa!
- Sou um assassino de spaghetti sem dúvida, mas, em termos práticos, que ajuda é que já deste que eu não tenha dado?
- Ah! Mas não é bem isso que está em causa, eu ao menos sinto-me culpado por não ajudar mais, e dou donativos e ajudo os pobrezinhos e o caraças. E custa-me, muito, podia estar no quentinho de casa! Enquanto tu, ..., pfff, vá-se lá saber o que fazes nos tempos livres com essa filosofia maluca!
- Eu escrevo, acerca do Infinito...
- Pfff, bem sabia, só inutilidades... e os tipos em África a morrer!
- Mas se te sentes mal porque não vais lá ajudar?
- O problema não sou eu, és tu! Não fujas com o rabo à seringa.
- Ok, então vejamos, és Livre ou não?
- Se tiver meios para fazer o que quero, se ninguém me impedir, sim!
- Então uma pessoa viciada que sinta necessidade de cocaína, se tiver meios de a tomar, se ninguém a impedir, é Livre sempre que a toma!
- Bem, mas nesse caso pode ser um viciado, não consegue evitar desejar a droga. Por isso não é livre, o vício impede-o de ter a opção de não desejar aquilo que o vicia.
- Então, o facto de termos todas as condições materiais de concretizar o nosso desejo e ninguém nos impedir, não significa só por si que sejamos Livres. Pois teríamos de saber se esse desejo foi escolhido livremente, ou não é assim?
- Acho que sim, mas não estou a ver onde queres chegar...
- É que me parece que quase tudo o que desejamos... fomos ensinados a desejá-lo.
- Hummm... o gosto da cerveja ainda vou lá, aprendi-o; o Benfica, talvez, ensinaram-me; agora a minha miúda, ou a cor azul, isso foram coisas minhas...
- Foste tu que decidiste desejá-las?
- Quer dizer, o desejo acontece, ninguém decide desejar, ou se decide, até pode nem dar certo. Tantas vezes que a gente quer desejar trabalhar, quando na verdade queríamos era ir à praia.
- Exactamente, os desejos acontecem, surgem vindos da vida, propostos pelas iguarias que o nosso corpo observa, ou de que nos falam, ou de actividades que nos habituamos a fazer: telemóveis e computadores, viagens e pessoas, conquistas, fama, poder, família, reconhecimento, desportos, etc... Tudo isto são coisas que vão despertando o desejo em nós e nós corremos atrás delas, por vezes como loucos, mas isso não quer dizer que sejamos livres só por as conquistarmos...
- Ok, isso é um bocado estranho, mas mesmo que fosse assim, o que é que tem a ver com o que estávamos a falar?
- É que, se pudesses escolher o teu desejo, o que quererias desejar?
- O quê? Sei lá! Mas onde é que queres chegar?
- Eu comecei por dizer que a única coisa que nos impede de atravessar a porta sempre aberta para o infinito que o Mundo é (e nada mais é do que isso), é a própria vontade. tu começaste a falar de comida, de saúde, de bens materiais, mas nada disso é o infinito. O facto de eu neste momento não poder encher o meu carro de gasolina não significa que me seja impossível viajar até ao infinito. Como disse, viajar até ao infinito só depende de uma coisa, só tem um combustível, e esse combustível é querer ir até lá. Mas normalmente nós queremos muita coisa, sexo, companhia, aceitação, fortuna, aventuras, deixar a nossa marca no mundo, queremos tanta coisa que esse desejo de infinito vai ficando lá atrás, um pouco perdido na multidão de outros desejos que também temos.
- humm... (faz um olhar inteligente e pensativo enquanto pensa: este gajo é maluco!)
- É que há uma condição para passar a porta, ou melhor a quantidade infinita de portas, que nos separam do infinito. Essa condição é que temos de ir inteiros. Não pode ficar nenhum bocadinho a desejar o sorriso da cara sardenta, a conversa ao luar, sob as estrelas, a felicidade da família. Todas essas coisas são desejos autênticos e legítimos, que nos ensinaram a ter, que aprendemos a ter ou que descobrimos que temos. Mas, se tivéssemos podido escolher o nosso verdadeiro desejo, se tivéssemos podido escolher livremente, livremente, livremente!, o nosso desejo, certamente que escolheríamos desejar algo inominável, a própria raiz da Felicidade e da Vida, pois aí está, concentrado, tudo o que procuramos noutros sítios dissolvido. E nenhuma fome, dor, ignorância, etc, nos poderia afastar dessa raiz se a desejássemos inteiros. A porta está sempre aberta, e tudo o resto tem apenas a importância que lhe quisermos dar.
- Olha (entretanto tinha perdido o fio da conversa), deixa lá isso, tu não és nada mau rapaz, até és porreiro, às vezes, és só um bocado confuso, mas vem daí que eu pago-te uma bejeca!
- Não costumo beber alcool, fico tonto.
- É pá (ainda por cima é esquisito), tá bem, um sumo de laranja! Pode ser?
- Fixe, ainda bem que ofereces, ando um bocado teso! Obrigado!
- De nada pá, de nada (és um bocado maluco, lá isso és!). Vem lá daí que isto das filosofias faz-me doer a cabeça!

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