terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Casamento

O Casamento...
aqui está uma actividade que pode ser vista de uma enormidade de perspectivas diferentes.

Talvez o aspecto mais interessante do casamento seja a forma como ele conjuga algo do foro do proibido e do pessoal (o sexo, a devassidão da paixão, o pecaminoso), com o foro do que é público (a família, o sagrado), e o instituem transformando, por exemplo, sexo em reprodução, paixão escaldante em laços familiares, etc.

Assim, os pais e as mães vão, nos seus melhores vestidos, reconhecer que os seus filhos vão fornicar nessa noite. E, espera-se, fornicar da melhor maneira possível, talvez selvagem, talvez delicada, mas sempre como sintoma de um grande amor, de algo que vai durar "para sempre", ou pelo menos para toda a vida. O laço dá sentido e respeitabilidade a tudo o que antes era pecaminoso.

A noiva, não vai propriamente de lingerie sexy, apesar de quase todos os adultos na festa, imaginarem os pormenores da lingerie e do que acontecerá logo à noite. Em vez dos rendilhados das meias de ligas, o que se vê é outro tipo de rendilhados: um véu longo, um vestido da cor das nuvens e que tudo tapa, exacerbando a imaginação.

O casamento é aquele tipo de eventos em que a respeitabilidade pretende esconder o que realmente se passa: aqueles tipos, a partir de agora, não só podem, mas devem dormir e f**** juntos. Não só lhes é permitido as maiores loucuras sexuais mas a isso são obrigados se querem ser um casal moderno e de "longa duração". A sexualidade é, a partir de agora, não uma fuga pecaminosa, às escondidas de todos, mas parte da comunicação e do jogo de trocas entre o casal. É algo que pode ser esperado ou mesmo exigido, falado com amigos íntimos e, até, causa para o divórcio.

O casamento tem de ser, por isso, algo de espectacular, para não parecer que estamos a falar do modo como uma rameira e o seu chulo se assumem face ao mundo. Isso seria chato, e irrealista. Afinal a mulher que diz: vou dar o meu corpo a este homem durante o resto da minha vida, está longe de ser uma rameira, porque não o faz só pelo dinheiro. Pelo contrário, fá-lo por amor, para ter filhos, para ter "uma vida", para se sentir realizada! Porque razão haveria uma pessoa de dizer: vou dar o meu corpo àquele homem durante o resto da vida, senão fosse por boas razões como estas? Para obter coisas boas e não más, como o dinheiro!!?

E o homem também não é um chulo, longe disso, mas mesmo muito longe disso. É certo que aquilo que o atrai é o sexo da mulher, sobretudo. E é certo que se ela se recusasse ao sexo provavelmente tudo acabaria passados uns meses. Mas mesmo assim, ele ama-a, quer protegê-la, fazê-la feliz, dar-lhe tudo, morrer por ela, se ela for para a cama com ele, é certo. Porque senão, torna-se talvez uma grande vaca, daquelas chatas, e ele pede o divórcio, porque não quer perder tempo com uma puritana.

Mas mesmo sendo o casamento algo muito longínquo de uma rameira e de um chulo assumirem os seus papéis perante o mundo, mesmo assim, há-que dar-lhe um aspecto imponente, e por isso é importante o local rico, os fatos luxuosos, as roupas caras e a maquilhagem, dias, semanas, meses de preparação, convites digníssimos, pessoas digníssimas. Sim, porque este homem e esta mulher, que se vão casar, são deuses, são Princípes e Princesas e, se vão f**** a noite toda, isso é lá com eles, mas não é por isso que estamos aqui. Nós estamos aqui, não só pela comida e bebida e porque seria chato dizer que não vínhamos (não tínhamos desculpa), mas para dar grandiosidade à grandiosidade inequívoca destes jovens que se vão dar no mais belo acto de amor. Que vão ser, a partir de agora, marido e mulher, pais dedicados, membros da comunidade. Enfim, partes da sociedade de grande valor e respeito! O casamento afinal não é sobre sexo, nunca foi, é sobre mostrar como somos importantes, valiosos uns para os outros, dignos e merecedores de respeito, até porque o sabemos dar, a quem merece, note-se bem.

O casamento é, antes de mais, um ritual de aceitação, tu agora fazes parte do grupo dos casados, és cá dos nossos. E vais ter os nossos vícios, os nossos problemas, as nossas tentações, os nossos dramas e adversidades. Nós compreendemos-te bem, porque já cá andamos há anos, mas não te preocupes, porque tudo vai correr bem!

Mas há um problema com esta perspectiva, antigamente até podia funcionar bem, porque o casamento era acima de tudo um contrato, no melhor dos casos fundado na obediência e respeito, e no Amor a um Deus que estava lá a velar por nós e a quem não podíamos desiludir nem por nada. Assim, quando dávamos uma beijoca no nosso amado, estávamos também a fazer um favorzinho a Deus e a cumprir as nossas obrigações perante a família e a sociedade, que era isso que esperava de nós.

Mas hoje em dia inventou-se uma nova moda e casamo-nos, namoramos, separamo-nos, tudo isso por amor. Ora, parece-me que ninguém sabe muito bem o que essa palavra significa: será paixão, uma forma intensa de amizade, respeito e carinho, preocupação, necessidade de estar com, não poder viver sem? Bem, mesmo sem saber o que é o amor, parece certo que é por ele que avaliamos tudo o que diga respeito a relações. E a única coisa certa que me parece haver em relação ao amor é que ele é uma emoção ou sentimento. Ora toda a gente sabe que emoções e sentimentos mudam. O amor muda, cresce e decresce, aparece e desaparece. Então como podemos jurar que vamos amar aquele ser para sempre? É que ele e nós mudamos...

Há coisas que não mudam, por exemplo, podemos amar para sempre um filho, um irmão, alguém de família. Mas não é esse tipo de amor que achamos que sustenta uma relação casadoira. O amor fogoso da paixão vai e vem, e normalmente muda de objecto, ou melhor, de sujeito amado.

Nesse sentido, moderno, de relação, o casamento é uma de três coisas: um sonho ou idealismo, uma aposta ou uma mentira. É uma tentativa de ocultar a imprevisibilidade e reino do coração substituindo-o com frases como "vou amar-te para sempre" e que têm o valor que todos conhecemos. A própria pessoa que a diz sente aquele sininho da consciência: «se calhar é mentira», mas tenta acreditar que é verdade, ou diz a si própria «ele precisa de ouvir isto», ou, pior ainda, acredita mesmo, porque ainda não viveu o suficiente.

Enfim, como podem ver sou um idealista em relação ao casamento!!!

E, para o provar, aqui vai mais uma melodia:

Só há um caso em que o casamento me parece, não uma fuga, mentira, demonstração de riqueza, espalhafato social: é quando as pessoas se amam verdadeiramente e querem amar-se durante toda a vida e mais além e o casamento é então o símbolo desse amor, dessa enorme vontade de estar, para todo o sempre um com o outro. E é um sentimento tão feliz, tão enorme, tão sem fim, que espalha felicidade a toda a volta. Então os familiares e amigos, os verdadeiros amigos, são contagiados por este prazer sem fim de estar um com o outro, e querem partilhar dele e celebrá-lo. Então vestem-se bem e aperaltam-se todos, passam dias a pensar na sorte que aqueles dois tiveram por se terem encontrado, bendizem-lhes a felicidade, congratulam-se por eles, e, no dia do casamento, aparecem, muito alegres e contentes, dispostos a acreditar, a dar-lhes o melhor, a rir e a brincar, sobretudo a celebrar um tão alegre acontecimento e sucessão de acontecimentos e desejam então, sinceramente, quase a chorar, as melhores felicidades, que fiquem juntos e felizes para sempre, tão bonitos que eles são!!!! E então é um dia lindíssimo e toda a gente dança como se voasse e ri como se fosse para sempre,

e, este sim,
é um casamento feliz
por amor
que dura para sempre
nem que seja
só por um dia, por um momento!!!

um sorriso, uma dádiva, um olhar
que vale por uma vida inteira!!!

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