terça-feira, 3 de março de 2020
Leonard Cohen, Treaty
Acho que sim, que preciso de um tratado entre o amor que sinto quem vem do todo, há quem chame Deus, e o meu amor, que é o da parte, que quer satisfazer a ideia de que, de alguma forma, existo como mais do que uma parte transitória, de que tudo o que penso que sou, sou realmente como coisa real. Esses dois amores não se misturam, são como água e azeite. O meu eu, separado do resto, está sempre a tentar ser melhor, ser diferente, ser válido como parte autónoma,. O amor que vem do todo está sempre a tentar mostrar-me que eu já sou isso tudo, tudo o que procuro. Que, enquanto liberdade, não sou a parte, mas o todo que se reflecte em cada parte, inclusive neste corpo e mente que têm tendência para se sentirem únicos e isolados, à parte. Mas isso é só porque temos um cérebro. Uma perspectiva. Na realidade, aquilo que sinto que vem do cosmos é que toda a separação é aparente. É apenas uma sensação, nem sequer é um pensamento com sentido, muito menos uma teoria. Duvido até que o conceito fizesse sentido. Tal como a palavra liberdade, ou os números imaginários, há coisas que simplesmente não cabem na mente.
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