Temos de viver sem saber de onde viemos, para onde vamos ou qual o valor objetivo do que fazemos (se é que tem algum)... claro que podemos sempre ignorar a nossa ignorância e fazer de conta que sabemos. Mas não parece que esse fazer de conta mude algo de substancial.
Para além disso também não conhecemos as consequências "a longo prazo" de nenhuma das nossas ações.
Isto é como um cego que anda pelo mundo sem saber o que deve fazer mas sabendo que cada segundo que vive tem um preço... Um cego que sabe que é cego, um ignorante que sabe que ignora. O que fazer do tempo que resta?
A vida, sendo o que é, não faz sentido, pelo menos nada que se possa demonstrar.
Há pelo menos cinco saídas para este absurdo que é viver (deve haver mais). Uma é simplesmente um gajo matar-se. Outra é (fingir) acreditar em qualquer coisa ou conseguir mesmo esquecer a dúvida ou aprisioná-la num sítio tão distante que raramente vem à consciência. A terceira é ter a sorte de ser ingénuo e ignorar o que é incómodo (que não se sabe, que a nossa presença tem um custo para outras vidas, etc). A quarta é tentar fazer da nossa vida algo positivo para outras vidas. No plano da humanidade, se nós servirmos para proteger a vida do planeta da velhice e morte do sol, de cometas, etc, então o nosso "custo", a longo prazo, será compensador. Teremos trazido não só a nossa própria beleza inovadora mas também preservado a de muitos outros seres. Uma quinta é compreender que vamos morrer e que cada momento é incrívelmente precioso porque único, irrepetível e porque a vida é tão incrivelmente curta.
Um jogo absurdo, do qual não se compreende as regras nem o sentido, pode tornar-se muito giro se percebermos que é a única vez que o vamos jogar. Temos uma oportunidade e uma só para ver aquele movimento, para escolher aquele caminho e o que se segue ninguém sabe, mas vamos ver. Estamos a experimentar, a provar, e cada momento é único.
Os caracóis, os caranguejos, os mexilhões, as vacas, os bisontes, todos morrem, os homens vão para o céu! Nós inventámos sofás e tvs com telecomando, inventámos histórias onde somos o centro do mundo e tudo o que acontece é por nossa causa. É confortável, mas limitador. Todas essas teorias fecham-nos para a vida.
A vida, sem sentido, sem porquê, sem razão de ser, sem saber de onde vimos ou para onde vamos, a vida onde matamos e morremos, que pode não ter pés nem cabeça... mas, quando é a única coisa que temos, a única amostra de realidade, a única esperança de virmos a compreender alguma coisa.... tomamo-la com gosto, dançamos com ela, e damos-lhe tudo o que somos e ela, nessa dança, torna-se Bela, Valiosa, sempre nova... é: não vai durar muito, tudo isto, mais vale aproveitar enquanto há.
Estas duas últimas saídas(4ª e 5ª), a de aceitar a morte e de contribuir para a vida em geral, andam bem de mãos dadas. De um ponto de vista conceptual o problema do sem sentido da vida não se resolve, abrimos apenas mão de tentar que a vida faça sentido, para mergulhar no suculento mistério que é viver.
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