quinta-feira, 26 de março de 2015
Quando as palavras prejudicam
"A mente mente" e não há volta a dar.
Há vários problemas com as teorias e conceitos, alguns deles são:
A realidade é demasiadamente complexa para ser modelada por modelos matemáticos. O que conseguimos são aproximações suficientemente boas para fazer computadores, aviões, naves espaciais, etc. Ou seja, funcionam bastante bem para os nossos interesses práticos. Mas se o nosso objetivo for modelar a realidade em si mesma, então isso simplesmente não existe. Temos apenas simplificações que nem sequer sabemos até que ponto são válidas.
Em segundo lugar nem tudo é descritível pela linguagem. As sensações, etc, não são conceptualmente atingíveis. Podemos nomeá-las e esperar que a minha sensação de verde seja igual à tua. Apontamos e dizemos: «isto é verde ou azul?» e esperamos a resposta. Mas é impossível saber se a minha sensação do que quer que seja corresponde à tua. Simplesmente não conseguimos comunicar isso por palavras.
Há também muitas outras coisas que não cabem na mente. O conceito de livre arbítrio é um deles, pois não é algo por acaso nem causado. No entanto não sabemos o que possa ser isso. É uma sensação que temos a que não corresponde nada no conceito.
Da mesma forma a beleza de uma música não se consegue explicar, nem para nós próprios. Posso não ter dúvidas que os "divertimentos" para flauta de Mozart são belos, deliciosos mesmo. Mas é um não ter dúvidas que só se aplica a mim. Se alguém me perguntar se aquelas melodias são belas em si mesmas, e se quem não vê a sua beleza é como se estivesse cego... ou, se pelo contrário, a beleza está no olhar de quem a vê e não existe fora dele... bem, não saberia dizê-lo. Eu nem sequer consigo explicar a mim mesmo o que é a beleza.
Em tudo isto as teorias são meramente impotentes, não prejudiciais. Mas há situações em que elas se tornam verdadeiramente prejudiciais. Por exemplo, eu sei há anos o código da minha porta. Vou lá e marco-o sem qualquer problema. Até que um dia quis dizê-lo a alguém. Ora eu sei marcar o código quando olho para o teclado. Sei a posição relativa dos dedos, e olho para os números, tudo aquilo encaixa. Mas quando tentei lembrar-me do código sem ver o teclado, surgiram-me várias hipóteses. Fiz o óbvio e fui experimentar: descobri que já não sabia o código da porta! Já não conseguia abrir a porta. O simples facto de me tentar lembrar distorceu as minhas memórias. Pensei que no dia seguinte já me conseguiria lembrar ao chegar a casa, mas nada. Durante uns dias andei com a chave até que desisti e liguei ao condomínio para me facultarem novamente o código!
Isto é apenas um de muitos exemplos de como misturar teorias, em algo que conhecemos bem de outra maneira, pode destruir o conhecimento que tínhamos.
Como beijar? O que é o amor? Como ser livre? E coisas do género, não só não ajudam como prejudicam. Para seres livre ... não, não vou entrar por aí ^_^. Mas, o que quer que eu pronunciasse, teria depois de ser desconstruído, reabsorvido, digerido e assimilado em algo mais vasto e indizível, que não cabe numa teoria. (E, em última análise, "esquecido".) Só aí recuperaria a minha autenticidade / liberdade.
Há vários problemas com as teorias e conceitos, alguns deles são:
A realidade é demasiadamente complexa para ser modelada por modelos matemáticos. O que conseguimos são aproximações suficientemente boas para fazer computadores, aviões, naves espaciais, etc. Ou seja, funcionam bastante bem para os nossos interesses práticos. Mas se o nosso objetivo for modelar a realidade em si mesma, então isso simplesmente não existe. Temos apenas simplificações que nem sequer sabemos até que ponto são válidas.
Em segundo lugar nem tudo é descritível pela linguagem. As sensações, etc, não são conceptualmente atingíveis. Podemos nomeá-las e esperar que a minha sensação de verde seja igual à tua. Apontamos e dizemos: «isto é verde ou azul?» e esperamos a resposta. Mas é impossível saber se a minha sensação do que quer que seja corresponde à tua. Simplesmente não conseguimos comunicar isso por palavras.
Há também muitas outras coisas que não cabem na mente. O conceito de livre arbítrio é um deles, pois não é algo por acaso nem causado. No entanto não sabemos o que possa ser isso. É uma sensação que temos a que não corresponde nada no conceito.
Da mesma forma a beleza de uma música não se consegue explicar, nem para nós próprios. Posso não ter dúvidas que os "divertimentos" para flauta de Mozart são belos, deliciosos mesmo. Mas é um não ter dúvidas que só se aplica a mim. Se alguém me perguntar se aquelas melodias são belas em si mesmas, e se quem não vê a sua beleza é como se estivesse cego... ou, se pelo contrário, a beleza está no olhar de quem a vê e não existe fora dele... bem, não saberia dizê-lo. Eu nem sequer consigo explicar a mim mesmo o que é a beleza.
Em tudo isto as teorias são meramente impotentes, não prejudiciais. Mas há situações em que elas se tornam verdadeiramente prejudiciais. Por exemplo, eu sei há anos o código da minha porta. Vou lá e marco-o sem qualquer problema. Até que um dia quis dizê-lo a alguém. Ora eu sei marcar o código quando olho para o teclado. Sei a posição relativa dos dedos, e olho para os números, tudo aquilo encaixa. Mas quando tentei lembrar-me do código sem ver o teclado, surgiram-me várias hipóteses. Fiz o óbvio e fui experimentar: descobri que já não sabia o código da porta! Já não conseguia abrir a porta. O simples facto de me tentar lembrar distorceu as minhas memórias. Pensei que no dia seguinte já me conseguiria lembrar ao chegar a casa, mas nada. Durante uns dias andei com a chave até que desisti e liguei ao condomínio para me facultarem novamente o código!
Isto é apenas um de muitos exemplos de como misturar teorias, em algo que conhecemos bem de outra maneira, pode destruir o conhecimento que tínhamos.
Como beijar? O que é o amor? Como ser livre? E coisas do género, não só não ajudam como prejudicam. Para seres livre ... não, não vou entrar por aí ^_^. Mas, o que quer que eu pronunciasse, teria depois de ser desconstruído, reabsorvido, digerido e assimilado em algo mais vasto e indizível, que não cabe numa teoria. (E, em última análise, "esquecido".) Só aí recuperaria a minha autenticidade / liberdade.
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