quinta-feira, 30 de abril de 2015

Beleza

Talvez nunca venhamos a saber se a beleza é real ou imaginária,

mas, imaginar que não existe a não ser na nossa cabeça,

não nos deveria impedir de ver, e mergulhar em, cada um dos seus detalhes...

sexta-feira, 24 de abril de 2015

A dois...

A dois...

É sempre mais fácil imaginar que somos o centro do mundo

ou voar, para faraway lands,

sabendo sempre que temos um ao outro

para nos consolar,

divertir, revigorar, acompanhar

todas as aventuras e desventuras,

ou simplesmente:

estar lá.


Sozinho:

É mais fácil perder-se no Cosmos.

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Amar na civilização do pecado

Pode parecer muito bom amar na civilização do pecado. Afinal, se as pessoas estão sedentas de sexo e amor, sós e frustradas na intimidade, é relativamente fácil arranjar um/a companheiro/a.

E esse alguém vai ficar muito dependente de nós!

Glória, glória! Aléluia!

Alguém só para nós, extremamente dependente, que precisa de nós, que seria frustrado/a sem a presença da "cara metade", ui!, o que poderia ser melhor?: a relação de amor vem com garantia de exclusividade, dependência e a promessa de ser assim para toda a vida. Ui! Que espetáculo!!


Que Felicidade, que Ternura!

O único problema é que...

A origem dos nossos males não está na falta daquela relação, mas sim na frustração geral que atravessa as nossas vidas. Nós não fazemos o que queremos, não realizamos os nossos sonhos. Escondermo-nos atrás de uma relação não resolve nada. Dá-nos, é certo, um grande conforto emocional durante bastante tempo, mas não dura muito. A vida, mais cedo ou mais tarde, apanha-nos e a frustração, vinda do passado, com origem já desde a infância, volta a ser visível. Então, normalmente, culpamos o outro, queremos sair, queremos ser outros, mas é demasiado tarde...



É quase impensável, nesta civilização do pecado (superstição e medo) que temos, imaginar o que é o amor entre pessoas antes da "queda", ou seja antes de comerem a maçã do pecado original, antes de terem vergonha de estarem nuas. Mas alguém que não sente vergonha do que sente, de estar nua entre os outros, de fazer amor com quem quer que seja, de se realizar, de sentir tudo, de ser tudo, de amar tudo, de pensar tudo, de experimentar tudo, com lucidez, com integridade, sem sentir sequer a sombra do pecado, talvez não possa senão chegar a uma conclusão, digo eu:


Porque quem não está agrilhoado só pode ver que é parte deste infinito e, reconhecendo-se nele, sentir a infinita beleza do todo...





Luz do sol, que a folha traga e traduz,
Em verde novo, em folha, em graça, em vida, em força, em luz.
Céu azul, que vem até onde os pés tocam a terra e a terra inspira e exala os seus azuis.
Reza, reza o rio, córrego pro rio, o rio pro mar,
Reza a correnteza, roça a beira, doura a areia.
Marcha o homem sobre o chão, leva no coração uma ferida acesa.
Dono do sim e do não diante da visão da infinita beleza,
Finda por ferir com a mão essa delicadeza a coisa mais querida:
A glória da vida.
- Caetano Veloso -











sexta-feira, 17 de abril de 2015

Eu

Eu sou aquele que parece que dá valor ao dinheiro
mas na realidade o que quer é encontrar o Real.

Eu sou aquele que parece que gosta deste ou desta,
mas na realidade gosta é da Beleza
(que partilhámos em tempos, lembras-te?).

Eu sou aquele que ama
o Infinito




e, vivendo nele, procurou a Verdade,
mas só encontrou a Beleza.

Eu sou aquele
que busca tudo
e, nada compreendendo,
está grato, maravilhado,
pela magia da Existência e
waiting for another trip upon that magic swirlin' ship...

 

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Pensamento do dia

Por vezes podemo-nos apoiar nos outros, mas em geral eles são tão frágeis como nós. Se queremos realmente trazer alguma luz ao mundo a nossa inspiração tem de vir diretamente da fonte.

Claro que a questão é: onde é que está essa fonte?

Essa é a pergunta chave que desde sempre tentamos responder...

A minha resposta é: vem de todo o lado, para quem não lhe fecha as portas...

Comprar um telemóvel

Os telemóveis (smartphone) são objetos complexos, não só pela variedade de tecnologias que usam mas por tudo o que pode correr mal na sua implementação, articulação e uso. Na prática, para saber se um telemóvel é bom para nós teríamos de o usar algum tempo comparando com outros modelos e ver qual se ajusta melhor ao que queremos. Como isto não pode ser feito a nossa escolha em parte é feita às cegas e existem vários modelos principais para fazer essa escolha:

Os amigos / modas: talvez uma das melhores e mais conhecida seja esta. Se o nosso círculo de amigos usa um iPhone e diz bem do iPhone nós também compramos um iPhone e dizemos bem do iPhone. Assim toda a gente fica a ganhar porque reforçamos mutuamente a nossa ideia de que fizemos uma boa escolha e somos pessoas espetaculares rodeados de pessoas íntimas espetaculares no meio de um mundo mais vasto de freaks feios e anormais. Não interessa nada que o iPhone nem leve um cartão de memória, não permita transferir músicas de forma simples, não dê para ligar a um monitor exterior, nem tenha muitas outras coisas e progrmas e seja caro como tudo. Desde que a gente não saiba de todas essas limitações e que toda a gente à nossa volta nos diga que sim, que aquilo é muita bom. A perspetiva da moda, da fashion, raramente dá mal em termos de satisfação e de prazer. É como pertencer a uma religião. É tão bom saber que vamos ser salvos, sair do ciclo de reencarnações, ou ser ressurretos. Os outros, coitados, até pensam que estão a fazer as coisas bem, pobrezinhos, mas nós vamos ajudá-los. Nós somos bons e vamos ensiná-los. Enfim, novamente, uma boa estratégia para ser feliz!

As características técnicas: Esta é a forma dos nerds como eu. Vai-se ver as características técnicas de tudo e mais alguma coisa, perde-se uma boa dezena de horas a ver cada modelo e a tentar compreender o que é cada coisa (desde o glonass e o A-GPS ao gorilla glass, sensibilidade do wi-fi, os mil e um tipos de CPU e GPU, a memória ram - quantidade e rapidez -, qualidade de imagem, sensibilidade do ecrã, número de dedos reconhecidos, qualidade das câmaras - por pixeis e real -, e mais um sem número de coisas incluindo conectividade, possibilidade de root, bateria, conexões GSM - HSPA+, etc, etc, etc). Finalmente decidimos por um modelo, todas aquelas centenas de horas deram-nos um resultado final. Ele chega e.... não, é horrível. Porquê? Bem, por todas aquelas coisas de que não nos lembrámos... porque o hardware não era fiável e avariou, ou porque o software traz coisas que não queremos e não conseguimos tirar ou não dá para instalar o que queremos, porque é muito pesada, porque a imagem não tem resolução suficiente para os nossos olhos, etc, etc. Esta perspetiva em geral não funciona e razão é simples: o assunto é demasiado complexo, tem demasiadas variáveis. Por mais tempo que dediquemos ao assunto, vai haver sempre aspectos que não conseguimos compreender. É um pouco como o filósofo (não-platónico) / sofista / cientista que tenta compreender o mundo com a mente. Até pode passar centenas de milhar de horas a estudar o assunto, detalhadamente, sistematicamente, mas é daquelas coisas que, a partir de certo ponto: «quanto mais olha menos se vê» porque, precisamente por não conseguirmos abarcar todos os aspectos relevantes, acabamos por dar uma ênfase excessiva àqueles que, por acaso, conseguimos compreender. Era como se, perante um elefante, só conseguíssemos ver mil pixeis tirados ao acaso de uma imagem com mil milhões. Claro que nunca iríamos perceber que era um elefante! Mas, pior do que isso, em vez de manter a dúvida, quanto mais estudássemos aqueles pixeis, mais nos iríamos convencer que sabíamos do que estávamos a falar. Nesse sentido a aproximação científica leva-nos a uma ilusão cada vez maior: cada vez mais estamos convencidos de que sabemos o que se está a passar quando, na realidade, sabemos tanto como os outros e, portanto, menos do que eles.

O aspeto: Esta estratégia normalmente dá mal, apesar de que as pessoas que escolhem pelo aspeto em geral não são muito exigentes e contentam-se com pouco em termos de funcionalidade, mesmo assim costumam escolher coisas tão más "por dentro" apesar de serem bonitinhas à superfície, que normalmente ficam com coisas que ou são praticamente inutilizáveis ou se estragam facilmente. Outro problema é que as pessoas que escolhem pela superfície não sabem realmente como é que funciona isso que compraram. Por isso, mesmo que o objeto seja bom, não o conseguem usar. É daquelas coisas que é giro mostrar aos amigos que se tem e foi "muito caro" e é bom, mas depois fica no móvel sem ser usado dias a fio, porque ninguém lhe sabe mexer. Na vida há algo parecido, as chamadas pessoas "superficiais" (shallow) que só se importam com o que está na aparência. Em geral dão-se mal porque a vida as surpreende constantemente. Estão sempre à espera que aconteça qualquer coisa, que normalmente tem a ver com o que alguém disse ou pensou de alguém. E depois a vida faz qualquer coisa inesperada! Doenças, mortes, despedimentos, aumentos, alguém sai de casa. É tudo muito confuso para essas pessoas. Elas tentam... e, são tão bonitas e têm e fazem coisas tão bonitas... mas... parece que a vida acaba sempre por ser injusta para elas. A beleza não compensa dizem por vezes. Nós diríamos mais: a superficialidade não compensa... É preciso trabalhar um pouco mais para entrar nos detalhes das coisas.

A experiência da comunidade alargada: Aqui já não é tanto o que o nosso círculo de amigos pensa, é mais: vamos a um sítio com recolha de muitas experiências como o
http://www.gsmarena.com/alcatel_pop_c1-5691.php
e vemos as pontuações gerais dos utilizadores, lemos as reviews, vemos os pontos fortes e fracos. Este sistema deu origem à minha primeira boa compra nesta área. Neste caso é um telemóvel que me custou 49 euros e faz tudo o que eu quero. Na realidade ficou de borla porque veio acompanhado de 200 megas / mês gratuítos para toda a vida, e então mudei para um plano sem carregamentos obrigatórios e agora falo pelo skype e outros programas do género, mesmo quando não tenho wifi. Não é propriamente o motorola moto g, mas era o que havia e estou muito contente com ele. Não é fácil explicar porque é que gosto dele, na realidade o único aspeto negativo é que é demasiado lento (só tem meio giga de ram). Mas em tudo o resto é bom, leve, agradável ao tato, etc. Aplicada à vida esta perspetiva não tem bem um nome. Está mais próxima do filósofo-artista que nunca se esquece que nada sabe, mas que mesmo assim continua à procura, em todo o lado, pelas experiências dos outros, das melhores formas de abordar uma certa situação. Note-se que tem de se ir buscar experiências a um conjunto random, alargado de pessoas. Não conta se só ler aquele conjunto de pessoas com quem já sente afinidade (aí voltamos à primeira perspetiva, da moda). Tem a vantagem adicional de, ao saber que nada se sabe, viver a vida como uma aventura e um mistério, ao contrário de todos aqueles empoeirados sábios que, quanto à vida, já "sabem do que se trata" e depois é vê-los com os livros bolorentos, encafuados eternamente nas mesmas salas a ler coisas repetidas... Mas são úteis sem dúvidas para o viajante, como quem vai beber o cheirinho à folha de alface e depois vai buscar um gostinho ao agrião.

O que está mais à mão: essa é a perspetiva mais comum e corresponde àquelas pessoas que, na vida, escolhem o modo de viver presente na sua comunidade. Bem, é fácil de ver o que acontece, é uma questão de sorte. Se nasceres na California numa família rica com casa com vista para o mar é uma coisa. Se nasceres como rapariga naqueles países onde o rapto leva, no melhor dos casos, ao casamento com o raptador / violador, então é a situação já é outra.

Sorte-Azar ? 
És a próxima noiva que eles vão raptar.
http://en.wikipedia.org/wiki/Bride_kidnapping

Sorte-Azar ?
Os teus pais são os donos deste hotel na California
http://fireelf.com/board/pins/1/1617

Sorte-Azar ?
Era o que estava na loja...

O mais caro: Para quem tem dinheiro isto costuma ser um bom método: «dê-me o mais caro que houver». "Bom" no sentido em que se fica com algo com qualidade, não necessariamente algo útil para o sentido da nossa vida. Até nos pode escravizar se tivermos de trabalhar para ter dinheiro (mais uns meses de trabalho forçado para pagar o telemóvel que não me traz a alegria que preciso). Seria interessante aplicar esta analogia ao modo de viver: o que seria escolher o modo de viver "mais caro" em termos espirituais? É verdade que costumamos dizer que tudo tem um preço. Mas, em termos de estilos de vida, o que se "paga" em termos espirituais tanto pode ser um mero gasto como um investimento. Por exemplo, estou a ser médico voluntário em África ou desenvolver um projeto de permacultura, então, para compensar os confortos e outros prazeres e seguranças perdidos, poderei ter avançado / pago com integridade / verticalidade (fazer o que acho que está "certo"). Se tudo correr bem, será um "investimento" nessa integridade: à medida que o projeto cresce, também essa sensação de integridade vai crescendo. Inversamente, para ganhar facilmente prazer - coisas que enchem os sentidos e preenchem as frustrações -, controlo sobre os outros e aquilo a que na sociedade chamamos de "riqueza", posso dedicar-me à fraude ou à manipulação. Neste caso, para ficar mais rico materialmente vou ter de pagar com a minha própria consciência. Mas, neste caso, à maneira do «Retrato de Dorian Gray", o que avanço / pago com integridade / verticalidade, é para perder completamente. Não é um investimento é um gasto puro e simples. Fico sem ele e portanto, se tiver pouco, posso ficar sem nada. Aqui a analogia com o telemóvel é a de saber o que de facto vou fazer com ele. Comprei-o porque me vai ajudar a crescer ou é simplesmente para preencher uma frustração? Não é tanto o que gastei nele que conta, mas mais o que vou construir com ele. Se estiver simplesmente à espera de "encher os meus buracos de contentamento", ou seja, de preencher as minhas frustrações, então espera-me uma vida imensa de enchimento. Porque as nossas frustrações são como poços sem fundo, podemos ir enchendo de coisas que elas querem sempre mais. Se, por outro lado, é um aprofundamento da nossa experiência de ser real, da nossa verticalidade, da nossa consciência, da nossa liberdade, bem, então, talvez, qualquer preço seja barato...

Base Jumping in Norway


Quatro quintos

Daqui a aproximadamente mil milhões de anos a terra já não terá água, o que se deve ao crescimento natural do volume do sol (é o que costuma acontecer a todas as estrelas).

https://en.wikipedia.org/wiki/Sun#Earth's_fate

Isso significa que a terra, com os seus mais de 4 mil milhões de anos, já gastou quatro quintos do seu tempo útil para gerar uma espécie inteligente capaz de transportar a vida para fora do planeta (ou de o modificar (órbita, atmosfera, criar filtros, etc) que permitam que a vida continue por cá.

Quando pensamos que nós, seres humanos, somos a melhor hipótese até agora alcançada... ui! Isto não se afigura bom. Será que nos próximos 100 mil anos vamos sobreviver a nós próprios? Eu tenho dúvidas até sobre os próximos 10 mil. A nossa capacidade técnica é de facto assombrosa e evolui rapidamente.

O nosso problema, enquanto espécie, não está tanto na tecnologia, mas no desprezo pela verdade, na ambição desmesurada, no viver em ilusões, nos objetivos separados de uma visão do todo, enfim, de uma estultícia geral, que acompanha os nossos feitos científicos, tecnológicos, artísticos e filosóficos, e que abrange quer a emoção quer a razão.

Ai, a Terra, planeta tão lindo e com uma história tão fabulosa, merecia melhor, não?

Ainda temos algum tempo, vamos esperar que sim... que nós, estes macacos vestidos de saber, deem origem a algo interessante e entretanto, agora que são tão potentes, não destruam o planeta com as suas macaquices.

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Qual é a coisa, qual é ela, que quanto mais se olha, menos se vê?

É o Sol!

A não ser que se pense cuidadosamente sobre o assunto durante muitas gerações:

http://www.skyandtelescope.com/observing/observing-the-sun/

Mas, de forma geral, sabemos apenas que está lá, lemos o que outros descobriram sobre ele, mas, o que ele é realmente, escapa-nos completamente à compreensão.

Assim como tudo o resto.

Vivemos no desconhecido.

Felizmente temos os pensamentos para nos escudarem desse facto.
Às tantas até parece que sabemos!!
Yupi!!

não. oh ilusão! estou farto da loucura de ser humano.

W. Shakespeare

Mas ainda não estou farto da oportunidade de existir, de aprender, de fazer uma diferença e ver como isso se repercute pela existência fora. Não estou farto de ouvir e falar, de respirar...

O Shakespeare  dizia que «choramos ao nascer porque viemos parar a este grande palco de dementes", mas a verdade é que o choro ajuda a desimpedir os brônquios... é um passo para poder rir e amar.

quarta-feira, 8 de abril de 2015

O pensamento confunde-nos - alternativa?

Não é sempre... há muitas áreas onde a reflexão nos ajuda e até nos pode permitir chegar incrivelmente longe. O poder do pensamento levou-nos a conseguir construir naves espaciais, lâmpadas fluorescentes, automóveis, telemóveis e muitas outras coisas que superam em muito os sonhos mais arrojados das civilizações antigas.

Mas, quantos milhares de milhões de horas de pensamento humano foram necessárias para compreender que não é o sol que anda à volta da terra mas a terra que anda à volta do sol? Foi preciso inventar a astronomia, a matemática, a geometria e depois refletir sobre o assunto um incontável número de gerações.

Mas o pior são os sistemas complexos, com muitas partes. O mundo está cheio de sistemas desse tipo, sendo que um que encontramos todos os dias é o ser humano. Apesar do esforço lançado sobre as ciências sociais, a neurociência, a biologia e muitas outras continuamos a ser um mistério para nós próprios.

Um exemplo simples: vou ao campo ou à praia?
Alguns fatores envolvidos: que temperatura vai estar, nº de pessoas que vai estar em cada um dos sítios, prazer que vamos retirar de lá, num podemos levar o cão e fazer um piquenique no outro podemos ir à água, mas será que a água vai parecer muito fria? Quantos de nós vamos à água? E já agora estamos a tentar maximizar o quê? O prazer que vamos sentir, globalmente ou individualmente? É uma escala linear? E já agora como se mede? Se o cão tiver de ficar em casa também conta o desprazer dele ou apenas o nosso ao saber que ele não está a divertir-se?

Não sei se dá para ver, mas a situação acima tem imensas incógnitas (por exemplo o espaço livre em cada um dos sítios, o prazer que vamos ter, etc) e o próprio processo de avaliação do resultado é controverso. Mesmo depois da decisão tomada e efetuada uns poderão achar que foi o melhor e outros o pior.

Ou seja, na prática, quase nunca sabemos bem se estamos a decidir bem ou não. E não é pelo pensamento que lá chegamos. Pensando sobre as coisas corremos o risco de ficar mais confusos pois o pensamento capta apenas uma minúscula parte do que pode acontecer e do que está em causa.

Haverá outra alternativa? Felizmente temos um cérebro animalesco criado mesmo para dar resposta a esta situação. As emoções permitem-nos lidar com estas situações complexas de uma forma que, não sendo a óptima, é, geralmente, boa. Tem ainda outra vantagem: se fizermos aquilo que gostamos está resolvido o problema da avaliação e da frustração quando os objetivos se afastam muito do esperado.

A coisa funciona assim: eu apetece-me X, e começo a fazer cenas para X. Mas o desejo é mutável, à medida que vou avançando para X posso perceber que X talvez não seja assim tão bom? E então posso perguntar, olhem: o cão Estrôncio fica triste assim em casa e se formos antes ao campo? Pode não ser tão giro mas... ou seja, desvio-me para Y... e de um para o outro dinamicamente, na realidade, até posso ir viajando entre vários tipos de objetivos, X,Y,W,Z... etc, que podem ir sendo criados à medida que vou explorando várias possibilidades.

A outra grande vantagem é que, se fizer aquilo que me dá prazer, que floresce em mim como vontade, os meus objetivos são menores: não pretendo o "melhor" mas apenas realizar aquele (conjunto de) desejo(s). Claro que se em vez de um cérebro de um litro e meio tivesse um computador quântico do tamanho da lua, talvez pudesse abordar a realidade de outra maneira. Mas com os nossos cérebros, não muito diferentes do dos outros símios e mamíferos, não se deve esperar muito da nossa capacidade de pensar. (A não ser nos domínios específicos em que milhões de horas de reflexão foram desenhando estratégias que de facto funcionam.)

É melhor fazermos portanto como os nossos amigos na natureza semelhantes a nós: usarmos o coração, a intuição, vermos a vida como uma aventura, inspirarmo-nos uns nos outros, deixarmos a emoção fluir e, sobretudo, não estarmos à espera de alcançar o "melhor" resultado (até porque, na maior parte dos casos, isso é controverso), mas apenas de "florescer". As coisas podem correr melhor ou pior, mas é relativamente mais fácil garantir que conseguimos florescer, experimentar, estar cientes do que se passa, aprender, em resumo, ter aventuras enriquecedoras...

Porque, do ponto de vista do pensamento, a realidade é um caos, uma confusão, não se percebe nada, nem do que se passa (a uma escala fina), e, por vezes, nem sequer do que queremos que se passe.

Claro que há um aspeto em que o pensamento continua sempre a ser essencial: na visão global do que se passa. Não devemos esconder a nós próprios, por exemplo, que está um dia ventoso (isso irá ter repercussões na ida à praia). As principais características devem estar presentes na nossa mente. Mas só as "global features", as mais gerais. Porque, à medida que começamos a descer no pormenor, vamos necessariamente esquecer umas e dar demasiado peso a outras. Só podemos descrever enquanto a descrição for equilibrada. A partir de um certo ponto começamos a enfatizar cada vez mais pormenores que acabam por ser supérfluos ou nem sequer se aplicar na globalidade do contexto. Ou seja, no que toca à mente: Keep it simple, keep it real!

Quando a situação é complexa...
Floresce!